sexta-feira, 7 de abril de 2023

Ascendino Leite

Ascendino Leite (1915-2010) nasceu em Conceição do Piancó-Pb. Foi jornalista, escritor e funcionário público. Dirigiu a redação de diversos jornais em São Paulo e Rio de Janeiro. Na Paraíba trabalhou em O Norte, A União e Correio da Paraíba. Foi membro da Academia Paraibana de Letras e sócio fundador da Associação Paraibana de Imprensa. Publicou diversos livros, entre eles destacamos “Por uma saudade azul”, “Visões do Vale”, “Estética do modernismo”, “Os dias esquecidos”, entre outros.





MEU ROSTO


Sou tão sincero no que faço
que penso: Deus me segue,
sorrindo e abençoado no pecado.

Sou tão sincero no que penso,
que Deus me acompanha no passado,
— velho tributário do pecado.

Sou tão voraz por entre as coisas
que, não raro, com elas me confundo.
Daí que, fiel ao que elas são,

sei que Deus me abandona no que sou.
Como, então, não creditar
a Deus, Nosso Senhor,
a sorte de, a toda hora, ter desejos?





*****

 


IDEOLOGIA

 

Escondida está em nosso Vale
a minha ideologia da paixão.
Se tudo tivesse dado certo, digo,
eu teria sido pai aos doze anos.
Não é, querida Laura? E tu,
uma certa mãezinha à mesma idade?
Surpresas, mais que mistérios, vindas
do Vale em que nasci e casto fui,
os sentidos me impondo seu império.




*****

 

CANÇÃO AMARGA

 

Nem todo silêncio é inexplicável.
Antes, pode ser pensado
          e dirigido,
sob inconcebíveis fundamentos,
a um indispensável massacre.

Porém, mais que um ato
          dantesco
ele consuma em morte e
          cinza
ilusórios amores renegados.



Elegia -10

 

  

Vem. O campo está aberto e livre
pra nele, a flor florir.
Como, no teu corpo, minhas mãos tocando
e tímidos se espalhem
meus dedos por teus delicados
traços, amando.

É assim que, por entre soluços
e sufocados gritos de prazer,
nada nos falte
nem chegue à demasia.

Eis o que, por nós, urdido
e pelo calor de nossa carne,
aquecida e sôfrega, vem nascendo
o mais ambicionado
dos destinos em busca
da ventura, do amor e da razão. 
dita vivida por viver.




*****

 

 

OMBROS

 

Fria é a tarde.
E úmida a minha carne
ao cruzar a grama
e passar por teus ombros nus.

Vejo o horizonte e a lua
               despontando
rumo ao vago firmamento.
No entanto, vence o teu olhar
sobre o silêncio cósmico
e profundo do mar escuro.

O meu próprio amor.



Anayde Beiriz

 Anayde Beiriz (1905-1930) nasceu na Parahyba do Norte (posteriormente João Pessoa). Foi professora e poeta, com larga participação na vida cultural da cidade. Foi morar em Recife depois que seu namorado, João Dantas, assassinou o presidente da província, João Pessoa, por motivos passionais. Sua vida foi devastada pelos partidários de João Pessoa e a maioria dos seus escritos foi objeto de ataques moralistas e queimados. A causa da sua morte é apontada como suicídio. Foi enterrada como indigente em Recife.





Nasci
Nasceu
Creesceu
Namorou
Noivou
Casou
Noite nupcial
As telhas viram tudo
Se as moças fossem telhas não casariam




*****




Um poema de amor e de saudade
cheio de vida e de claridade...
Escreve-o para mim
tudo que me dissestes,
nessa loucura, enfim!
O poema de amor e de saudade,
que eu te pediria para mim
Oh! Meu amor!
Por que não escreveste esse poema?




*****



Maria da Soledade Leite

 Maria da Soledade Leite nasceu em Alagoa Grande-Pb onde ainda vive. Poeta, repentista e cordelista. Publicou os cordeis "Dois  corações que se amam", "Milagre de Santo Antônio", "A morte de margarida". Este último em homenagem a amiga e companheira de lutas Margarida Maria Alves, liderança campesina assassinada em 1983. Gravou quatro CDs e publicou o livro "Minha história em poesia".



O poeta cantador
Ainda sente nostalgia
Porque nossa cantoria
Não tem um total valor
O mundo superior
Não sabe o que é repente
Se ficar na nossa frente
Não liga nossa cultura
Precisamos cobertura
Pra esta arte da gente

Vivemos de improviso
cantndo ao som da viola
feita de madeira e cola
Mas no momento preciso
Na mesma mando um aviso
rancado no verso quente
Do cantador de repente
A arte não tá segura
precisamos cobertura
Pra esta arte da gente

O cantador do nordeste
Começa na mocidade
Depois que chega a idade
A túnica triste veste
Vai sofrer que só a peste
Cansado velho e doente
O que lhe resta somente
É comer farinha pura
Precisamos cobertura
Pra esta arte da gente




*****




Ser mulher

Ser mulher é ver a imensidão
O amor a paz o carinho
O aconchego?
A ternura a luz o caminho
É o sossego?
É a brisa que vem nos envolvendo
É o sol que vem nos aquecendo

É a fome é o choro
O desemprego?

Não!
Mulher é fonte da vida
É o ser que acalenta o amor
É a palavra mais doce e querida
É a luz que tem mais esplendor.




*****




A raiz da violência/ Precisa
ser destruída


Maria da Soledade
Pede a Deus onipotente
Proteção pra essa gente
Que vive sem liberdade
Para quem só faz maldade
Pede que Deus em seguida
O faça mudar de vida
Dê-lhe outra consciência
A raiz da violência
Precisa ser destruída

É preciso ter amor
Se precisa de união
Para que a nossa nação
finde esse quadro de dor
Este povo sofredor
Que vive perdendo a vida
È por causa da comida
De terra de resistência
A raiz da violência
Precisa ser destruída.




*****




Tanta terra perdida sem
semente/ Tanta gente sem terra
para plantar


Tanta terra está abandonada
Tanta gente sentindo precisão
Sem plantar a banana e o feijão
E o rico calado não diz nada
A mesa do pobre está pelada
E o dono não pode melhorar
Nao tem terra pra nela trabalhar
De tristeza a pobreza está doente
Tanta terra perdida sem semente
Tanta gente sem terra pra plantar

Tanta gente de fome está morrendo
Sem saúde sem casa sem estudo
Mas o rico avarento tem de tudo
Não ajuda ao irmão que está sofrendo
Mas por isso o Brasil está perdendo
E a perda irá multiplicar
Se o quadro da Pátria não mudar
Nosso povo não é independente
Tanta terra perdida sem semente
tanta gente sem terra para plantar

Oliveira de Panelas

Oliveira Francisco de Melo nasceu em Panelas-PE e vive em João Pessoa. Possui uma carreira vitoriosa como cantador e repentista, poeta e escritor. Publicou diversos livros, entre eles destacamos "Poesia e Liberdade", "Na cadência do martelo", "Poetas Alternativos", "Cintilâncias", entre outros. Gravou onze LPs e diversos CDs. Cantou para três filmes lançados nacionalmente, entre eles "Chatô, o rei do Brasil.



O poeta se apresenta

Saí da inércia um dia,
Que é estado latente;
Em germe fui transformado;
Tomei forma diferente:
Desenvolvi-me no óvulo,
Daí passei a ser gente

Escalo o vôo duma águia;
Passo acima do condor;
Eu sou o HOMEM DAS NUVENS
Dos Alpes, trago uma flor
Para oferecer, na Terra,
A quem mais me der amor

Velho planeta de guerra,
De sua rota, não sai:
Gira com velocidade,
Saber, saber pra onde vai…
Talvez conduzindo um povo
Pras moradas do meu Pai.




*****





EU NÃO TROCO MEU OXENTE
NO OK DE SEU NINGUÉM

 

Quem tiver da vodka orloff
Tome a garrafa todinha,
Que eu sou mais minha caninha
Com tripa de boi e bofe.
Essa de estrogonofe
Eu não sei nem de onde vem!
Gosto mais do meu xerém
Com carne assada bem quente,
Eu não troco o meu oxente
No OK de seu ninguém.

 

Isso de mercy bou cour
É negócio pra francês!
Eu vou lá falar inglês
Pra dizer I love you!
Eu sou mais gosto de tu
Minha fogosa, meu bem!
Meu pro mode e meu que nem
Tem um ritmo diferente,
Eu não troco o meu oxente
No OK de seu ninguém.

 

Eu não troco meu sertão
Por cinco ou seis Hollywood
Nem pensem que Robin Hood
Vale mais que Lampião,
Sou muito mais Gonzagão
Tocando seu xenhenhém,
Aposto como He-man
Não sabe fazer repente,
Eu não troco o meu oxente
No OK de seu ninguém.

 

Não cantam com meu gogó
Michael Jackson e On The Block,
Vinte festivais de rock
Não “chega” aos pés de um forró!
Do caldo de mocotó
Viagra está muito além!
Whisky escocês não tem
Sabor de nossa aguardente,
Eu não troco o meu oxente
No OK de seu ninguém.

 

Não dou a minha sanfona...
Pela guitarra estrangeira;
Nota dez pra brasileira
Nota zero pra Madonna,
Madonna eu acho na zona
E Lady Gaga, também,
Iron Maiden, quando vem
Não tem moléstia que aguente,
Eu não troco o meu oxente
No OK de seu ninguém.




*****




Amor Cósmico

E a terra era criancinha ainda
quando eu comecei te amar.
Eu venho dos anos, das era, que longe se acham daqui,
Contigo cantei a canção no espaço maior,
Em formas de luzes de um mundo melhor
Mas foi necessário partir.

Eu lembro da primeira vez que te vi,
Milênios de instantes de mim para ti,
Num só paralelo de imensidão
Estamos aqui.

Viemos de longe, do largo, do alto
Profundo
Cercado de inícios de todos os mundos
Sem poder parar.

E a terra era criancinha ainda
Quando eu comecei te amar.

Partimos maneiros, ligeiros
Qual luzes brincando com fogo no ar

E a terra era criancinha ainda
Quando eu comecei te amar

Jurei a promessa de minha missão
Que quando estivesse contigo no chão
Pagaria toda promessa que fiz.
Então desse amor que nasceu de nós dois
Que nasça outros grandes amores depois
Sementes plantadas pra um mundo feliz

No processo lindo que te conheci,
Mil razões eu tenho pra não te deixar,
Na vida eu estou, da vida eu sai
Na vida eu irei te encontrar

E a terra era criancinha ainda
Quando eu comecei te amar.




*****



Nunca Transforme em Vermelho
O Sinal Verde da Vida


É louvável quem respeita

Os sinais de advertência
Se a esquerda é preferência
Nunca passe pra direita.
A estrada não foi feita
Pra ser pista de corrida
Ao cruzar a Avenida
Mire-se bem neste espelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.

Repare bem o motor,
Viaje com confiança,
O cinto de segurança
Coloque pra onde for,
Examine o extintor,
Se a carga está vencida,
Não se torne um homicida
Por causa deste aparelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida

Não dirija embriagado,
Evite a fatalidade,
Não corra em velocidade,
Nunca viaje drogado,
Se caso estiver cansado,
Tente achar uma dormida,
Evite numa batida
Ferir mão, braço e joelho.
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.

No congestionamento,
Nunca perca a esportiva,
Dirija na defensiva,
Fique atento ao movimento,
Cuidado como cruzamento
Olhe a faixa proibida,
É grande quem não liquida
Sequer a vida de um coelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.

Prossiga a viagem em paz,
Seja feliz no retorno,
Jamais tente com suborno
Comprar os policiais,
Pois um suborno não faz
A vida restituída
Depois da vida perdida
É tarde, não há conselho.
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida




*****




SOMOS VERBOS PASSAGEIROS
Passo eu, passas tu e ele passa,
Nós passamos e todos passarão,
Conjugados ao MODO da ilusão
Que independe de credo, cor e raça.
Noutro estágio maior que a mente abraça
Talvez haja melhor definição.
Mas aqui, nessa nossa dimensão
Somos corpos em voos de fumaça.
Se vivemos o verbo dos instantes,
Porque não conjugar com os semelhantes
TEMPO e MODO, de Novas Consciências?
Que o verbo do amor aflore as mentes
E reacenda com luzes permanentes
As estradas de nossas existências!!!





Joedson Adriano

Joedson Adriano da Silva Santos nasceu em Bayeux, nascido e reside  em João Pessoa. Policial Militar desde 2002, é poeta e publicou em diveraas revistas eletrônicas a exemplo de GERMINA LITERATURA e VERBO21, em sites como JORNAL DE POESIA, AAntônio MIranda, Blocos Online, e no Caderno B do JORNAL CONTRAPONTO de João Pessoa. Publicou o livro Ode aos Deuses, O gênio Sanhauim, O Evangelho de Diógenes, entre outros.




os numes memoráveis não merecem mercês

nem devem ser descritos ou ditos como seres

em textos-totens-tumbas e templos hominais

senão não seriam os sons iconoclastas

na memória oral sem horas nem orações

de intemplários ateus sem alianças nem atas

os agoureiros guizos e guerreiros gurus

do que na mente se sente se não cego e surdo

mas os réus ruminantes e rapazes decrépitos

sem poderem deveras pelo darma depor

a respeito do rei e do reino irreal

com ordálio e navalha a necrosar os nervos

lhes descrevem ocamente com ordinários ornatos

sem cientifico aval nem analítica anuência

senão não seriam os serviçais fiéis

das mansões castrofóbicas que são caiadas com a cal

das religiões todas de todos os turíbulos

as santas religiões das regiões mais remotas

de legiões de ingênuos sem intelectual higiene

de bandos de bandidos e bandalhos desfraldados

que empunham a bandeira da bestial besteira

de apertadas leis e longas ladainhas

de sacrifícios sonsos e soçobrados castigos

pros cegos que não sabem a situação do seu umbigo

com a enguiçante preguiça de procurar a prova

pela gaiata ciência que só sonha com certezas

e duvida da verdade que da vida e vício

a todos e a tudo que é torto e morto

os homens vida deram ao darma duvidoso

ao desenharem distraídos os deuses foderosos

da saudade dos defuntos que desde a diluvial

são ios idolatrados em ícones e eidolons

do que é de alma ancião e achacado de corpo

eles criaram quimeras e cristos monstruosos

pra se louvarem deuses das doenças de doutrinas

a ser criadores-criaturas de caricatas feras

e os danosos deuses sem dados pra jogar

das doentias danações que dançam nos altares

simplórias criações do cricrido sem crítica

das sandices das gentes sem gênio nos seus genes

pelo parvo pavor de primitivo medo

de serem subitamente por sábios deletados

inventaram o trabalho duma tripla tortura

paliativo terapêutico pra trapos e pra tropas

de homens sem impenitentes e idílicos ideais

de sensitivos sonsos sem sentidos apurados

de cabisbaixos criados sem cabisaltos nervos

de ressentidos cérebros de sombras saturados

 

 

 

EVANGELHO DE DIÓGENES     

 

           1

como a maioria pensa no princípio era

a palavra de deus seu filho unigênito

mas poucos conhecem o incalculável prêmio

que eu agora apóstolo apresento a fera  

Diógenes o quínico o original gênio

o cristo nazireu o nous e a monera

o nômeno o pneuma e o ai quem dera

fosse eu e é pois Zeus é seu gêmeo 

e se fez sangue-carne no mundo e o mundo

não no conheceu mas do céu do qual sou vaso

de volts positivistas e negando os prazos 

em mim há a volta revolta do iracundo 

desconhecido contra o conhecido raso

que se rebaixa ao baixo porém alto e profundo

de iluminista índole e indolente vagabundo

em mim se insurge ressurge o vinho-ázimo 

 

 

2

 

há dois mil quatrocentos e vinte e seis anos

no solstício de inverno o anti-herói nascia

na cidade de Sínope atual Turquia

Anatólia pra seus fundadores jônios

na região ao sul do Mar Negro que soia

ser dita Paflagónia por helenos colonos

os quais lhe deram nomes numes e tronos

escrita arte ciência e cidadania

onde se fez um porto e a moeda floresceu  

pra modificar a moda por nadas

a partir do nada criador e a revirada

e independente utopia se deu

sob bênção do sincrético Serápis sem parada

no tempo será pior no templo Serapeum

seu nome Diógenes (nascido de Zeus)

voyeur da declínio dos medrosos de espada 

 

3

 

o filho da mãe dona de casa Olimpiade

da qual só se sabe por analogia

que não era donzela antes do messias

estar concebido via sexualidade 

e do pai Iquésios cultor da mais-valia

proprietário de banco grande autoridade

do qual não se confirma a paternidade

nem se sabe nada da genealogia

Diógenes nasceu normal sem nenhum culto

de reis pra visitá-lo vindos do Industão

e cutelo real pra matá-lo aos dois não

ou evasão pitagórica ao egípcio oculto  

pra aos doze já ser douto somente senão 

pra falar uma nova língua quando adulto

trigo em meio ao joio com seu fermento bruto

a extrapolar contra a tradição 

 

 

Jane Luiz Gomes

Maria do Desterro Luiz Gomes, conhecida no mundo da poesia e da educação da Paraíba como Jane Luiz Gomes nasceu em Boqueirão-Pb onde ainda vive. Formou-se em Pedagogia pela UFPB e é especialista em Educação Básica pela UEPB. Escritora, autora do Livro "O eu de mim". Membro fundadora e atual vice-presidente da ABES (Associação Boqueirãoense de Escritores);Coordenadora da FLIBO (Feira Literária de Boqueirão); Membro Honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano (IHGC).



HOJE

Fechada para o mundo
Enrosco-me na angústia e
solidão.
Curto a dor que aperta meu
peito,
Escuto meu grito silencioso
E desmancho-me entre lágrimas.

O grito do silêncio
Que cerca-me entre árvores,
Pessoas e esquecimento
Alimentam ainda mais o meu
calar.

Por isso, hoje choro.
Choro quem sabe
Somente hoje.




*****




BUSCA

Na obscuridade do ser,
Viagens profundas do imaginário
Silêncio que explode mentes
Com ideias nobres, pobres, confusas
Entre fotografias, pensamentos
entre verdades, fantasias e sonhos
Na razão a relação do id como ego
A busca está presente na vida
Assim como o sorriso, a tristeza,
O choro e a alegria.
No homem, o centro da busca,
Pelo ter, pelo prazer, pelo ser e querer.
O encontro é a representatividade
Da conquista que não representa o fim.
E sim, o recomeço de uma nova busca
Que nasce e renasce a cada instante.




*****


UMA LÁGRIMA DE ALMA

Transformo minhas lágrimas em poesia
Para não molhar meu rosto
E denunciar a dor de minha’alma.

Hoje não sei quem sou,
Prefiro fugir, engolir minhas lágrimas.




*****


MULHER

Mulher sei que sou,
Estou vivendo o que sempre vivi
E não sabia.
Mulher anjo, não menina,
Mulher divina,
Pele nua.
Quando queres sou tua,
Quando não, sou minha.
Me abraço em meus braços,
Durmo em meu cansaço
Sonho e relaxo,
Mesmo sentindo solidão.




*****




VIOLETAS

Poeta menino que canta,
Paisagens, rimas e letras,
Deleite para os amantes
As pétalas de violetas
Violetas

Violetas que tanto amor
Flores de sublime beleza.
Reflete o azul do céu
Com intensa delicadeza
Violetas

Violetas que tanto desejo
Sempre ao teu lado estar
Sentir suas pétalas macias
O meu corpo acariciar.
Violetas

Violetas que escutam
A voz do meu coração
Permita-me viver um sonho,
E neste sonho uma paixão.

Elmano Menezes

Elmano Menezes nasceu em Campina Grande-Pb e reside em João Pessoa-Pb. É formado em Letras pela UFPB. Frequentou o grupo de arte Jaguaribe Carne, dos irmãos Pedro Osmar e Paulo Ró. Contribuiu também com o Correios das Artes e as revistas literárias Usina e Garatuja. É autor de diversos livros ainda não publicados.


feudo
"tu és o meu passado e o meu futuro."
Liubomir Levtchev, o caminho das estrelas



o que resta-
a borda
do precipício

palavras mortas
e lábios impuros

deixa tua mão migrar
deixa ela colocar
no atrium
             do martírio

a voz de teu morto
que te corta a jugular
e depõe teus olhos
na escuridão




*****




pós-escrito
"tu que estás morto/ esgotaste o mistério."
Henriqueta Lisboa, miradouro e outros poemas.



a morte anda
ao teu lado

sela de tua boca
os lábios

se quer enganá-la
entrega-te ao diabo




*****




sanhauá
"mangue, água, rio e sangue/ caranguejo e sanhauá."
Jomar Souto, varadouro, soneto em preto e branco.


hora do morto
morte dourada
o morto envolto
em água

sanhauá morto

uma moeda
no lugar
do outro

enlameia
a alma




*****




som do vento
"Ouço cigarras em somar-se às penas."
Meng Haoran, antologia da poesia clássica chinesa.



no fim do dia
mais longo

cigarras mastigam gilletes

e jazem no ócio
exaustas

pálpebras partidas
ao som do vento




*****




deserção
"em calma solitude fecho a porta."
Wang Wei, escadaria de jade.
(antologia de poesia chinesa, sec. XII a.c. - XIII).


semeio
em teus cabelos
meu medo

na tua boca
o escarro corrompido
de augusto

e no teu clã imemorial
os mares calcinados de Júpiter





quinta-feira, 6 de abril de 2023

João Paraibano

João Pereira da Luz, conhecido como João Paraibano (1952-2014) nasceu em Princesa Isabel. Viveu muitos anos em Afogados da Ingazeira(PE). Poeta e repentista, nunca freuqnetou escola mas foi considerado um dos maiores cantadores do Brasil. Venceu diversos festivais e teve paricipações no Fantástico da Rede Globo de Televisão. No final de 2010 fez a despedida do presidente Lula com o poeta Valdir Teles.







Doutor eu sei que errei

Por dois fatos: dama e porre.

Por amor se mata e morre.

Eu nem morri, nem matei,

Apenas prejudiquei

Um ambiente de classe.

Depois de apanhar na face

Bati na flor do meu ramo.

Me prenderam porque amo

Quanto mais se eu odiasse.

Poeta mesmo ofendido

Sabe oferecer afeto.

Faz pena dormir no teto

Da morada de um bandido,

Se humilha, faz pedido

Ninguém escuta a voz sua,

Não vê o sol, nem a lua

Deixar o espaço aceso.

Por que um poeta preso

Com tantos ladrões na rua?

Sei que não sou marginal,

Mas por ciúmes de alguém,

Bebi pra fazer o bem,

Terminei fazendo o mal.

Eu tendo casa, quintal,

Portão, cortina, janela,

Deixei pra dormir na cela

Com a minha cabeça lesa,

Só sabe a cruz quanto pesa

Quem está carregando ela.

Poeta é um passarinho

Que quando está na cadeia

Sua pena fica feia,

Sente saudade do ninho,

Do calor do filhotinho,

Da fonte da imensidade.

Se come deixa a metade

Da ração que o dono bota,

Se canta esquece da nota

Da canção da liberdade.

Doutor, se eu perder meu nome

Não acho mais quem o empreste,

A minha mulher não veste,

Minha filhinha não come

E a minha fama se some

Para nunca mais voltar.

Não querendo lhe comprar,

Mas humildemente peço:

Se puder, rasgue o processo

E deixe o poeta cantar.

Marcel Vieira

 Marcel Vieira nasceu em João Pessoa, é escritor, pesquisador e professor da UFPB onde leciona Roteiro e Dramaturgia. Publicou o romance Camaradas, escreveu roteiros para filmes e séries de TV. Seu primeiro livro de poemas é Um abismo quase.






oferenda

poder ouvir a estridência efêmera do sonho
e tocar, ainda morno, o seu perfume branco,
abre-me, enfim, a fenda intrauterina
em que deposito, apaziguado,
a oferenda pela graça alcançada.

a isso chamam fé,
mas eu chamo terra.




*****




mudanças


o que sobrou do casulo,
seco e murcho sobre a pedra,
o sol logo dilacera,
picota em fibras miúdas,
até que, estiolada, a pele
inútil então vira
guarda-chuva de formiga.




*****



viagem

esta minha viagem
contigo. não há volta.
a selva escura e vasta
esconde o ouro em pequenas
fissuras. o céu tinge
a estrada de cardiovasculares
intenções.
a vida é sempre adiante.

enquanto as pernas exigem
a tração perene, penso
(típico gesto de quem
desobedece ao instinto):
e se, ao fim de tudo, a fé
for não um fogo que se avizinha,
mas a fagulha oclusa no palito?
meu corpo acomoda ações
que nunca serão obradas.
da ausência é que me completo.

por que, então, pedir-te a inteira
parte do que é inevitável
lacuna? por que exigir
da parelha a plenitude,
como se, na extravagância,
as solidões se agregassem?

não sinto falta do membro
amputado em guerra,
nem quero o encaixe servil
de um hemisfério na emenda
de outra semicircular
carência.
sou repleto de escassezes.




*****

 


desesperança

do pó lapidado
dos meus ossos, surge
a urgente fuligem
que cimenta o incêndio
da desesperança.

nesta terra infértil,
onde o que semeia,
sucumbe, até o tempo
se reitera inepto.
quem, sozinho no escuro,
pode ver no espelho
a invertida imagem
de si mesmo outrado?

quem, honestamente,
ata-se à verdade
feito um barco bêbado
que ancora na noite
o soluço irônico?
pouco – ou nada – resta
da crença no Todo;
até mesmo os cegos,
pensos na mureta,
hesitam em fiar-se
na haste das palavras.




*****

 


paciência

com um cansado aceno, que de miúda
envergadura o gesto quase ultima
o seu desejo assim que a mão espalma,
meu corpo gasto sem esforço se
despede de qualquer sincero afeto
e cada toque, mesmo ingênuo, agora
gera asco em minha pele apavorada.
com medo, as horas que antecedem o ovo
não mais escrevem versos do martírio.

a fúria afoita, desproporcionada,
que nesse tempo prenhe de assassínios
é a única ação fragrante de justiça,
ataca em mim a calmaria arcaica,
o sossego, a leveza mineral
(feita de fêmea firme em macho inane),
e obriga as mãos, incultas de combates,
a ser serpente torpe que envenena
a vida e a obriga, em greve, ao ricochete.

há quem resista e disso faça cartas,
amole sonhos, introduza azedo
adubo no futuro do presente.
a mim me espanta todo esse estoicismo,
feito de pão e estopa, cartorial,
prescrito, como antessala do abismo.
admiro apenas os que, putos, soltam
granadas no adro hostil dos ministérios.
é com rinhas de galo se implode impérios.

Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...