quarta-feira, 8 de março de 2023

Vitória Lima

 Maria das Vitórias Lima Rocha rasceu em Recife, morou e trabalhou em Campina Grande e atualmente reside em João Pessoa. Professora aposentada da UFPB e da UEPB. É uma das fundadoras do bloco Muriçocas de Miramar. Publicou dois livros de poemas: Anos Bissextos e Fuccia.



 

 

MENINOS & RATINHOS

 

Mais sorte têm os ratinhos:

já nascem prontos,

prontinhos,

casacos de pele,

agasalhos quentinhos.

 

 

 

CIGANO DESEJO

 

Meu desejo

anda de bonde,

patins e avião.

 

A pé, descalço,

de tênis

e camisão.

 

Meu desejo

anda tímido,

coitado.

 

Pega carona no vento,

no tempo,

anda até na contramão.

 

Meu desejo

só não anda

satisfeito.

 

 

 

2. SAIAS

 

Saias

arrebanham

ventos e tempestades,

murmúrios, marulhos,

nunca d’antes escutados.

 

Saias

trazem

o colorido revolto

dos mares incessantes

insensíveis

insensatos.

 

Areias, algas, sargaços,

argila, falésias

em constante dissolução.

 

Minhas saias

arrastam

atrás de si

amores, saudades e

tangem

para casa

memórias

com gosto

de sal,

de chuva,

com gosto de

nunca mais.

 

 

 

 

 

FÚCSIA

da paleta dos jambeiros
sai o fúcsia que
pinta & borda
as calçadas dos setembros.



NIGHTMARE

selvagens, insanas,
as éguas da noite
galopam à solta,

dispersam o sono
com o estampido
dos cascos
tonitruantes.



A PÁTINA DO TEMPO

a pátina do tempo
pinta/ cava/ marca

impondo
máscara impiedosa

que

plástica nenhuma
elimina.


PALHAÇO

de tanto fazer rir
o palhaço
nos engana
& leva a crer
que não chora.

besteira nossa
é pensar
que aquela
tinta toda

tem outra
função
além de esconder
a verdadeira
dor
de um fingidor.



SAGÜI

no delicioso
bulício
da mata
esgueira-se
fino
rabo
branco
& preto.



FANTASIA PARA UMA VISITA AO SUPERMERCADO

                 ...tendo ginsberg como guia

fantasio
que um dia
o encontrarei
por entre as gôndolas
                      (de um supermercado)
fantasio que
ao levantar os olhos
das cebolas
lá estará ele —

seus olhos me
buscando
insistentemente
por entre os tomates
& as beterrabas

me atrapalho
nas compras:
preciso de chuchu —
levo rabanetes

ao nos cruzarmos de novo
por entre peixes e siris
trocamos risinhos cúmplices —
já íntimos
& coniventes.

no caixa
(meio tímidos)
trocamos e-mails,
telefones

& marcamos encontro
para o próximo réveillon —
eu vou de rosa
ele vai de marrom...
 

 

José Rodrigues

José Rodrigues é o pseudînimo de Edimilson José da Silva. Nasceu em Bayeux(Pb) e reside em João Pessoa(Pb).  Publicou o livro de poemas Agonia mineral dos dias. Aposentou-se como professor da Rede Pública. É membro do Coral Voz Ativa, um grupo que realiza intervenções artísticas na cidade.



 

 

 

 

Gênese


Do azul
Deus espia
o idílio do fogo
o idílio das águas.

Do azul
Deus espia o orgasmo frio
das águas.

Do azul
Deus espia o trânsito
livre
das nuvens.

Deus

Vê tudo.

Menos as matas
que, virgens, de púbis para o sol,
esperam o claro instante da inevitável
fecundação.

 

 

 

 

Elegia


Tudo em minha alma é para sempre
como o sono dormente das pedras.
Tudo na minha alma é noite
revestida de melancolia, de tédio, de medo.
Tudo na minha alma é esperança,
vontade de viver,
de sonhar o sonho impossível
de ser eu mesmo duro como a pedra
para suportar os torpedos
que me são atirados pela janela dos dias.
Tudo na minha alma se dissolve
como nuvem escura na cinza das horas.
Tudo na minha alma se transforma
na dor de existir,
na agonia demiúrgica do meu degredo.
Tudo na minha alma
é solidário com a vida pequena dos homens.
Tudo na minha alma é utopia, repousa
nas esquinas desertas do mundo.

 

 

 

Pandora

 

 

Quantos segredos guardas
nesse teu rosto de mármore
nesse teu cabelo de ouro?

Quantos segredos guardas
nessa tua voz de pássaro
na alvorada?

Que guardas
nesse teu corpo de garça:
a caixa de Pandora,
ou a esperança morta
de sede de voar?

 

 

 

 

 

 

Idílio das Pedras
para Hildeberto Barbosa Filho


as pedras
se beijam escoradas
na margem esquerda
do rio

dentro do rio
os seixos aplaudem
o amor idílico
das pedras



 

Chão de Fantasia

 

 

Os pés não pisam
o assoalho dos sonhos.

 

Nem alcançam
as nuvens que cobrem
o chão de fantasia.

Os olhos
fixos no real efêmero
dos dias.

 

Silvinha França

 Silvinha França nasceu em Guarabira(Pb) e reside em Araçagi (Pb). É licenciada em Geografia e ativista cultural. Publicou diversos folhetos em Cordel. A exemplo de “Cordel para Clarice”, por ocasião do centenário da escritora Clarice Lispector.



 

 

Mulher

Homens, não me  levem a mal,
Mas eu  tenho que  dizer,
Sei  que não  vão entender,
Já  que mulher  não é normal,
Neste   mundo desigual,
Somos mais que essenciais,
Na terra, fundamentais
E estamos em  atuação,
Rápidas  na decisão
Pois só  mulher, é  d +.

Olhar doce de criança
Com a força de um  leão
Por ela  a  concepção
Que traz ao mundo esperança
Se entra na roda dança
Seja a música que for
Do Jardim, mais bela flor
Tudo inventa ou cria
É a luz do dia a dia
Com seu jeitin sedutor.

Paraiba turmalina
Que causa contemplação
Mesmo errada, tem razão
E aprende,  o que  ensina
Mulher é  mesmo menina
Que sonha, que fantasia
Que mesmo brava irradia
Sua essência de criança
Tem coragem, confiança
Sem ela, morre a alegria.

Mulher que  enfrenta  a dor
Que é dona do seu  nariz
Da vida,  a melhor atriz
Protagonista onde for
Que enfrenta frio ou calor
Mulher é  mesmo arretada
Não  se abate por nada
É pãe, avó  e madrinha
Mulher é  mesmo rainha
E tem que ser respeitada.




 


A todas às  Marias, dedico:

MARIA ," A PRETA"
Quem desafia o destino
Tem nas mãos uma missão
Em ultrapassar barreiras
Com força e dedicação
Na luta por igualdade
Para o bem da humanidade
Maria traz solução.

Mesmo tu sendo mulher
E preta"como um tição"
Assim tu eras chamada
Com certa discriminação
Mas por seres nordestina
Aguerrida e felina
Com a força de um leão.

Uma mulher destemida
Defendendo nossa gente
Salve a ti e as Margaridas
Por quebrarem a corrente
Não queremos mais algoz
Ninguém cala nossa voz
Somos de ti, a semente.

Tua trajetória é linda
Mãe, mulher e protetora
Amou e abraçou os filhos
Não só como genitora
Tua atitude  tão nobre
Nordestina, preta, pobre
MARIA, A VENCEDORA.

És exemplo de mulher
De garra, forte e ternura
Já é nosso Patrimônio
Salve a PRETA DA CULTURA
A TUA BELA HISTÓRIA
PARA SEMPRE NA MEMÓRIA
NÃO ENTRARÁ EM SEPULTURA.

 

Jon Moreira

  

 

Jon Moreira nasceu em João Pessoa é poeta, professor e doutor em Letras pela UFPB. Publicou o livro Anjo Diluidor e eestá atualmente na produção do segundo livro de poemas. Sua poesia pode ser encontrada em diversas revistas e sites de literatura.

 

 


 

 


Os Anjos


que são poetas mortos
carbono, comida pra bicho
o breu em que vivem
a própria terra infecunda
pó pedra dejetos de arte 
que não são poetas mortos
esterco letrado de árvores
pensamento verde
lavouras poéticas
carvalhos frondosos 
soletrando poesias
palmo a palmo no chão preto

 

 

 

 

Higgs

 

 

Minúsculo deus
Filho, pai e espírito 
Do Nada

Da colisão irreversível
Fez-se pão, vinho
Massa

Fez-se Deus
Corpo da mesma
Matéria do mais
Remoto Eu

Melancólica Molécula
Seus filhos paridos
sem pai

Um dia que já não bastava
ser-se
Adão, sentindo-se só
Criou Deus.

 

 

 

 


Casta

 

 

É de estirpe todo o adorno com que saem os verbos.
Vogais rasgam sempre, ditos arranhados dos dentes.
A casca e o laço dado dizem tudo do caroço.
O corpo é de carne pouca, nem sei se tanto.
Disto ou doutro há cerrar o queixo,
cessar assim a raiva.

Sendo de todo o avesso do que refrata.
Não por mal, nem por outra coisa,
apenas por o ser.

 

 

 

 

 

A Primeira Manhã

 

 

O sol
-como num clichê de novela-
esperou por nós
e a sós, nascemos.

O silêncio nos foi pai
ao redor das bocas
calou-nos a sete nós
trancando um tão por
dentro d’outro
que ressoa num
a outra muda voz.

 

 

 

 


Recolheita
para André Ricardo Aguiar


A cana chora no estio do verso
e olha, onisciente,
foice e chão.

palavra cortada
putrefato, adubo, humos,

E o lavrador -que já não lavra-
talha o baixo e a cisma
lhe abandona a raiz

Flor sem talo paira
infecunda
em perpétuo desvão

A dor na palavra morta
É Saara num
           grão de mar.

terça-feira, 7 de março de 2023

Paulo Dantas

Paulo Dantas nasceu em Santa Luzia-Pb e reside em São Bernardo do Campo-SP. É poeta, pesquisador da poesia popular nordestina e professor. É autor de “A butija dos dizer” (Coleção Mimo Alpharrabio 2018), do livro Folheto (Ed. Alpharrabio, 2021) e da proposta poética do espetáculo Mundo di Versos Incarnados.





 

rastros

 

1

como quem
tateia
lugar algum
minhas mãos
sísmicas
te encontraram
detrás de verbos
lapadas

neste abc

a esmo
balbuciando
tantas letras
de repente
desembocamos
no teu abraço
amigo

2

(sabe, tarso
é preciso estrebuchar
enquanto restar-nos
um cotoco de lápis
é preciso estrebuchar
e seja parindo
punhais ou clavinotes
é preciso estrebuchar
porque não tem
prego que aguente
e luzia
- mulher negra -
que nem conhecia
deus
também findou pagand’o
pato)

 

3


e agora, paulo?
migraste
o metro
as rima
migraste
singrando
alguns
   rastros

paulo, e agora?

 


 

***


brasis

 

meu avô era cafuzo
fazia experiências com
nevoeiros e formigas
enquanto o feijão esturricava
sob o sol

o algodão
era um tipo de neve
que cortava nossas mãos
e sempre derretia
na hora da venda

o eldorado era longe
os caixões de anjo
azuizinhos
e dona escassez
cada vez mais medonha

mas tinha ano que era bom
partilhávamos
melancias, sorrisos e jerimuns
cantarolando mangas
afetividades e umbuzadas
era fartura muita
de toda largura
desembocando em buchos vazios
e florescendo
os corações ressequidos

sacos e sacos de ráfia
fitilho, ligas, bagageiros
e o milho
enfim
em busca de casa

aí eram braços
moinho, tacho, peneira
colher de pau, dedo, lambida
(deixa isso quieto, menino!)
contentamentos

canjicas bem maquiadas
pamonhas em trajes de palha, café
cuscuz
milho assado e
fogueiras madrugadinhas

quando foi um dia
deus
descortinando o horizonte
deu fim no marasmo
ancestral

era mesmo como
se estendessem por sobre nós
a vermelhidão
de seo arrebol
cada vez mais lúgubre

a partir daí
a chinela mudou de toada
agora eram fogo e fé
e excrementos quaisquer
alienígenas

algoritmos
furadeiras
guarda-chuvas
cacos de vidro
carros de família

dinamites
metralhadoras
formicidas
cachaça
arsênico

torturas
estupros
torturas e estupros
esquartejamentos
genocídio

sonhei
que uma bala de fuzil atravessava
o corpo franzino do meu filho
e acordei desesperado
pode ser que isso aconteça

há sempre gritos
disparos
e um choro perene
quando coturnos engravatados
transitam por nossas vielas

as chagas todas
o infausto eterno
encontram sempre
sempre
a nossa pele

a nossa pele
a mesma
a mesma pele
que dá de ombros
guardando os olhos no bolso

século xxi
- regado a modernidades -
antropofagia
não será aguar boi e soja
com sangue?

(sangue
de tantas mãos grossas que lutam
como quem guarda
no peito memórias da terra)

 

 

*

 

acalanto

 

haverá um dia
um dia qualquer
qualquer um
em que
a minha porta
(insistente
gritando
gritando
gritando)
baterá
a mais bonita
poesia

entre suas mãos
encontrará abrigo
meu rosto
inquieta
ela fitará
meus olhos
seus polegares
enxugarão
minhas lágrimas
carinhosamente
pousará um beijo
sobre minha testa

nesse dia
ela não me dirá
nada
nada

Daniel Rodas

Daniel Rodas é escritor e poeta. Natural de Teixeira-PB, atualmente reside em Campina Grande-PB. Graduado em Letras (UEPB). Editor da Revista Sucuru. Autor da plaquete Eros e Saturno (Editora Primata, 2021) e do livro Umbuama (Editora Urutau, 2021). Integrou as antologias Poesia fora do eixo (Toma Aí Um Poema, 2022) e Engenho Arretado: poesia paraibana do século XXI (Patuá, 2023). Pensa na poesia como um fluxo, como o fluir incontrolável da vida.




UMBUZEIRO

 

Sol

Carcaçando desertos

 

O olhar gelado

Da enxada no pote

 

Na sombra do galho

Descansando na fronte

 

O menino mirrado

Entre as quedas do céu.

 

*

 

APÓS A CHUVA

 

Narciso

Olhando no espelho

 

Um sapinho pulou

 

*

 

PAROLE

 

A voz

interrompe o

silêncio

 

Suicídio de

sombras.

*

 

COMPOSIÇÃO

 

Saio do poema

como quem vem da

enxurrada.

 

*

CRONOLOGIA

 

As horas nos devoram como foices

Saturno: o planeta enlouquecido

Ao som da baraúna ao vento

Batinas de cabelos em fogo

O céu: um deus faminto

Comendo seus filhos numa sopa de

pedras.

 

*

 

METÁFORAS

 

Um poeta

Precisa de metáforas

 

De pedras

Lançadas ao vento

 

(Que não sejam pedras

Nem sejam vento)

 

Sejam diásporas.



*

CHÃO

 

Tão suave

O chão onde

Pisas

 

A carne

Artéria

 

Do coração.

 

*

 

VELHICE

 

 

O pasto de cabras sob o sol de setembro.

Galhos retorcidos – como mãos de criança –

Adornam as cores da paisagem.

Ao sul, eco de rio.

No céu, riscar de pássaros.

E na cadeira de balanço – na varanda

Aos pés do pé de coco –

Repousam os dedos

As mãos e os cabelos embranquecidos

Da tenra árvore humana

Frondosa de silêncios-véus.

(Do livro Umbuama)


Arland de Souza Lopes

 Arlan de Sousa Lopes nasceu em João Pessoa-Pb. Participou de algumas antologias de contos e poemas e foi premiado em alguns concursos literários na Paraíba. É poeta, mestre em Ciências Sociais e Defensor Público.

 

 

 

Balada da Praia do Poço
(a propósito de um antigo crime)


Os ouvidos do mar
e os olhos do mato
têm os punhos cerrados
os dentes rilhados
a mente embot
ada
e treme de gozo
por saber que na praia
os amantes se entregam
pela última vez

 

 

 

 

Cortejo


Lá vai o morto
em seu triste cortejo,
com os pés já não anda
é um simples despejo.

Os parentes choram
o que já é objeto
e a carreata segue
seu sinuoso trajeto.

Mas que ser logo adiante
o espera faceiro?
Não é Deus nem o Demônio
É o relés coveiro!

 

 

 

Seios

Há um caudaloso veio
de um seio
a outro seio teu.
Irrigados, eles despontam
qual dois cimos mirrados
para o desejo meu.

 

 

 

 

 

Escambo

 

 

Tu, ontem,
flébil donzela
me entregaste docilmente
seu selo virginal.

Eu, hoje,
eterno devedor,
te devolvo prontamente
três frutos celestiais.



Princípio do prazer


nada como de tudo
arrancar um pedaço

nada como um beijo
depois de um abraço

nada como na vida
as visões que já tive

nada como sentir
que ainda se vive

Jennifer Trajano nasceu em João Pessoa(Pb) e é formada em Letras (UFPB). Publicou Latíbulos e Diga aos brancos que não vou. Participou das antologias Um girassol nos teus cabelos: poemas para Marielle Franco e Cult Antologia Poética 3: poemas para fazer o luto desse tempo.

 


 

paixão


a asa se viu
pousada no costume
de ser mirada pelo caçador

quando a ameaça
se aproximava
penava, mas não voava mais

 

 

 

 

sereno envelhece


no branco que fazia
genocídio de xamã
com finos versículos
gerando ira em tupã

girando a mira
na fé de si
tira a tirania
que atira sangue

e vermelha o
verde da bandeira
esse símbolo
que nem é daqui

 

 

 

pátria

 

pela manhã vovó
mandava mainha
cozinhar congeladas
estrelas celestes
e as constelações
faziam brilhar
o fervor nas panelas

um dia nero visitou nosso céu
em tempo de cana com mel
e não havia ave
dormindo na
cadeira de balanço
ou vela de sétimo dia
para o gato da parede

então a comida queimou
os corpos ficaram
por dobrar os panos
e enterrado no quintal
o ventre da casa
que nunca foi nossa
perdeu o bebê

 

consciência 

acordei olhando
os olhos de vovó 
e debulhei as marcas
da escavada velhice 
cravada na pele 

vi ali os restos 
das vendas 
nas fendas 
das pretas 
maltratadas 

acordei com as vozes
negras espancadas, veio
na veia a velha vontade 
de remar, queimar 
os barcos no mar 

acordei olhando 
os raios solares 
baterem à porta 
da catarata de vovó
inundei de coragem

ela na cicatriz faz nó
em ancoragem
tira o véu
olha pro céu
dentro do sol

e me acorda dizendo
nalgum lugar, lá onde 
sempre estive, a carne  
mais barata do mercado 
não é a carne negra

 

nebulosa 
A Sérgio de Castro Pinto 

do olhar de baixo:
voa o papagaio
com o olho
cabisbaixo  
ao voo, em dis-
tante raio, feito 
flecha ao vento

sem tempo
, demora 
contando 
as brechas 
do céu, a cor 
da hora
e ao lado 

de fora 
faz eco como 
quem ecoa 
estrelas
pedindo 
falas, indo
nebulá-las

quereria não
partir as asas
não compensa 
repetir palavras 
sem entendê-las 
só por assim
dizerem sê-las

do olhar de cima: 
lá do azul 
que não sai
águia o vê e voa
guiada. já sem rima
a guia vê-se
no olhar torto 

enfim vai-se um bi-
cho dentro do outro 
regresso ao ventre e 
ao osso, donde restos 
de estrelas lembram 
ao fim que nada, nada 
é tão livre assim

 

Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...