quinta-feira, 6 de abril de 2023

Jessier Quirino

Jessier Quirino nasceu em Campina Grande e reside em Itabaiana-Pb. É arquiteto, poeta, compositor, intérprete e colunista de rádio. Mantém a coluna Enxerida no Contexto" na rádio CBN e o canal Papel de Bodega, no Youtube. Lançou diversos livros e álbuns. Destacamos "Papel de Bodega" "Prosa Morena" entre outras.



ARGUMENTO DUM VELHO SERTANEJO

Mode as modas de hoje em dia
Mode os modos de falar
Mode os amuo dos besta
Mode os presepe de lá
Mode estrupiço dos tempos
Mode eunão me amedronhar
Mode os pi-bite das rua
Mode as mutreta que há
Mode as falta de um bom-dia
Um boa noite, um olá
Mode assalto, mode tiro
Mode as fumaça do ar
Mode eu não ter desgosto
Ou mesmo me ressentir
Não se anime mode eu ir
Que eu não deixo esse lugar.




*****

 

DE POVO ADENTRO

Pra se fazer um partido
Mode empurrar no Brasil
Basta uns quatro filiado
Que coma feito esmeril
Disfarçado de gentil
Que seja bem traquejado
Ou mesmo mal-afamado
Mas com o seguinte perfil:

Que só pense em enricar
Mas enricar de verdade
Nem que seja cometendo
Umas três honestidade
Que negue toda verdade
Até com prova na mão

Com as feição mais ó meno
Que seja bom de aceno...
O resto é televisão.

É aí que o candidato
Sai muçum lubrificado
Entrando de povo adentro
Até o dia marcado
Quando os cabra abestaidado
Vai escolher na cabina
A marca da vaselina
Com que vai ser enrabado.




*****

 


Endereço de Matuto

 

Daqui até lá em casa? No Sítio Caga-Chapéu?

Dá um bocado de légua

Mas não é leguinha besta, nem légua de beiço não.

É légua macha, abafada

Dessas légua macriada, medida a rabo de cão.

 

Você saindo daqui, nem querendo você erra

No oitáo do cemitério pega a viela de terra

Desce em Toim Farinheiro

Passa a água brancacenta de Zefinha Lavadeira

Daí pra frente é estrada...

 

Depois da reta pegada

Avista o esbarro d'água do pai de Mane Maior

Avista o tamarineiro

Morado e sombreado de Seu Zé Vacinador

Quando chega nas quebrada do Raso do

Macaíba

Pega um mato embamburrado

Que o cabra morre e não chega

No Lajedo da Formiga.

 

Avistando um pé de pau com parecença de ipê

Aí o cumpade vê uma pista arreganhada

Prontinha se oferecendo pró cabra que aparecer,

 

Mas aí você não quera...

Diz: Essa não apriceio!!!

Pega a trilha carroçave

Com duas baixa dos lado e cabeleira no meio.

 

Bem dizer já tamo dentro da Avenida do Capim

Toca em riba da babugem coberta de pisadura

E tome rédea esticada do começo até o fim.

 

É estrada festejada por cerca de todo tipo:

É cerca de enchimento, de vara e de pau-a-pique

De lance, de avelós, de pedra, cama-no-chão

Trançada e pedra dobrada, aramada e travessão. |

 

E abre e fecha porteira

Porteira de pau-em-pé, de mourâo, de pau corrido

De colchete e zigue-zague

E o cabra ali no mondé!...

 

Se chegar numa porteira lambuzada de azul

Aí o cumpade errou...

Volte dez braça pra trás e quebre o braço direito

Onde começa Amargosa, as terra do meu avô.

 

Quando der numa caieira de pretura acarvonada

Pega a subida abusada do Serrote do Mói-Mói

É trecho pau-com-formiga

É ladeira enladeirada

Se o cabra sobe fumando

Cai cinza dentro do zói.

 

Bem dizer não chega em riba

Pega a gangorra descendo.

 

Da ribanceira pra baixo

É Sítio Caga-Chapéu

Avistando o mundaréu

Dali você tá me vendo.

 

Vê gado e capim-mimoso

Em estado de baixio

Em estado de balaio

Laranja, manga e limão

Pé de jaca jaquejando

E caju de vez em quando

Cajuindo pelo chão.

 

NÃo dá um pulo de grilo

Pra chegar no meu terreiro

É rudiar o açude

Que o cabôco morre em cima

O cabra logo se anima

Na sombra do juazeiro.

 

É uma casinha alpendrada

Com cinco bico de luz

O cachorro é Bero-Waite

Mas abana logo o rabo

Pra Nego-Véi e Cuscuz.




*****


 

CAMINHÃO DE MUDANÇA

 

Vai pela estrada um caminhão repleto de mudança

Levando a herança de herdeiros de poucos herdados:

 

Os engradados de uma cama finalmente em pé

Arca e Noé prisioneiros desse esfaqueado

Encaixotados os tecidos, mimos e quebráveis

E os incontáveis cacarecos soltos remexidos

Dois falecidos num retraio olham pra paisagem

Guardando imagens e lembranças dos seus tempos idos.

 

Um velho espelho já trincado mostra o azul do céu

E o mundaréu ensolarado se faz de carona

Uma meia-lona sobreposta com o melhor arrojo

Se faz de estojo pra relíquia da velha sanfona

Uma poltrona escancarada de pernas pra cima

Fazendo esgrima com cadeiras, bancas e tramelas

De sentinela dois pilões de bojo carcomido

E um retorcido pé de bucha de flor amarela.

 

Em dois colchões almofadados dorme a bicicleta

E duas setas de uma caixa mostram dois achados:

 

Um emoldurado de retraio com um Jesus sereno

E o último aceno de saudade de um cortinado.

Desbandeirado segue o carro rumo a seu destino

Um peregrino pitombado de grande esperança

Vai, na boleia, um passageiro carregando sonhos

Vai, na traseira, dez carradas de velhas lembranças.

 

 

Amanda Vital

 Amanda Vital nasceu em Ipatinga-MG, morou em João Pessoa onde cursou Letras na UFPB e atualmente vive em Portugal onde cursa mestrado na Universidade Nova de Lisboa. É editora adjunta da revista Mallarmargens e da Editora Patuá. É autora dos livros de poemas "Lux" e "Passagem". Seus poemas podem ser encontrados em diversos espaços virtuais. Participou de antologias como Ventre Urbano e 29 de abril, entre outras.

 

bastidores

 

há dez anos eu era magérrima e tão triste

tomava laxante contava calorias como se

contabilizasse minhas economias tinha já

minha escova de dentes pronta para usar

depois do almoço mas usava ao contrário

tinha fotos de atrizes também magérrimas

e tristes coladas de cima a baixo no quarto

na frente do guarda-roupa no caderno nas

paredes murchava a barriga ao espelho eu

sonhava como ficaria com minhas costelas

furando a carne fina e despontando na pele

eu queria ser leve a ponto de ser carregada

pelo primeiro vento que soprasse mais forte

e no fundo no fundo não era pelo incômodo

não era por carência nunca foi pela estética

no fundo eu queria mesmo era voar e sumir




*****




cantou tanto de galo
que se esqueceu
dos milhos

e as galinhas, espertas,
encheram o papo




*****




ajeite o ninho
que ainda
não sei voar

só abro asas
quando a saudade
me deixar




*****




princípios

 

é uma poesia sem propósito”, dizem eles,

essas que descrevem as casas, os bichos,

as pessoas, as saudades”. eu os conheço e

tento perceber a sede pela complexidade e

pela melopeia, pela filosofia e pelo sublime.

mas os dias se fazem tão bem em poemas

assim, malditos; a vida acontece cotidiana

atrás dos olhos de uma ave, entre o escuro

e o primeiro berro. conhecer tanta gente e

tantos lugares como se eu fosse os poetas

ou a própria poesia. um verso acabando no

mijo do cachorro, na falta de moedas, entre

o vão da escada e o risca-faca do bairrinho.

se falta algum propósito, passa já a existir:

um fragmento de vida sendo a vida inteira




*****

 


confessionário

 

minha verdade só entra pelas frestas: impaciente

e doida ricocheteando contra filtros teias bordas

como uma senhora agoniada nos fundos de uma

igreja junto à parede externa do confessionário a

chorar a sorrir com olhos fixos na barra da batina

do padre e os dedinhos furando as grelhas: entra

estrambólica como uma beata reclusa há décadas

dentro do próprio peito a gestar cabelos brancos

e uns pés de galinha gigantes ao redor dos olhos

a levar ovos numa sacola de plástico reutilizável a

direcionar guinchos sem coerência a quem passa:

já que isso de beleza e de elegância é para outras

mulheres o que é meu eu levo guardado no bolso

em papel envelhecido escrito em caneta bic preta

para mostrar e ler aos outros na parada de ônibus

mas é de uma feiurinha tão agradável que até dói

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Iverson Carneiro

Iverson Medeiros Carneiro nasceu em Belém do Pará , viveu a infância e parte da adolescência em Bragança. No final da década de 70, ficxou residência em João Pessoa onde morou por 11 anos. Fez teatro, participou do Movimento dos Escritores Independentes e do Musiclube da Paraíba, ao lado de Pedro Osmar, Chico Cesar, Paulo Ró e outros. A partir de 1981 publicou seis folhetos mimeografados e cinco livros. sua poesia está nas redes sociais,  em revistas, jornais e antologias.





A R0UPA DERRADEIRA
para ELIANA, que eu amei como a mim mesmo


A lua em quarto minguante
é corpo do meu amor
escondido dentro da roupa

- O corpo e a  roupa esconderijo -

No labirinto de tecidos
um resto de vida,
de um amor que se despede.

Meu amor na cama
é um sopro apenas
e um corpo que respira.

O sopro dissipado,
o corpo descansará
dentro da roupa derradeira.

Meus olhos egoístas
falarão palavras líquidas,
com o sal da perda.




*****




LINA IRREVERSÍVEL - MENTE
                                     I
                                     N
                                     D
                                     A
                    LINA NA RUA
                    I
                    T
                    E
                    R
                    A
                    M
                    E
                    NUA
                    T
                    E    LINDA
       OLHANDO A U
                          A




*****




PEQUENO POEMA
DO CÁRCERE

Preso na 10ª Distrital
pensei em ti
e jorrei meu amor
numa folha de jornal




*****




GERAÇÃO MARGINAL

Houve um tempo
em que cantávamos
restos de poesias
pelos bares

Éramos o lixo
do verbo
os vermes
do verso




*****




FIM DE FESTA
(Xoxota's Bar)


Os fregueses varrem
A noite do bar
quando o dia
amanhece de porre.
Depois, todos dormem.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Porcina Furtado

Porcina Furtado é natural de Sousa-PB, Poeta, atriz, produtora cultural, professora, graduada em Letras pela UFPB. Tem publicações em diversas antologias; dois livros em e-book publicados em https://porcinafurtado.wordpress.com e o livro Ilha Perdida, pela editora Arribaçã.


Invejoso

 

Os olhos
Gozam
Sua pele

Sente
Trêmulo
Seu corpo

No céu
De outro
Amor




*****

 


Cópula

 
Céu
De estrelas
Caminhantes
No meu rosto
Um vento leste
Velejava
A deriva
Meu corpo
Em brasa
Abrasava 
O seu
Até o findar
Da noite





*****

 

 

Dezembro

 

o ressoardo sino
meus sentidos

instável
trêmulo
em pernas
dançantes

no céu
dezembro




*****

  

 

Nuvens de algodão


Ela era noite calada
nas estrelas dançantes
Pés no céu da boca
Lua nova nos olhos
sujos da calçada
O sorriso chorava
no cheiro daquele gozo
Sonhos esverdeados de medo
adormecem as pernas cruzadas
cheirando a saliva e suor
soltos pelas paredes 
preenchidas de donos
era a mulher de todas as vidas
Vestida de todos os dias
Ao som daquela luz
retirou os sapatos da madrugada
despiu-se das noites
cheirava a orvalho de rosas
na manhã seguinte era menina
Acordada, pintava as nuvens
De algodão doce
No espelho a menina que fui 

 

 

***** 

 

 

A chuva que cai

 

A chuva cai
Grávida de desejos
Esconde a lua
Que míngua 
Meus sentidos 

Perdi a noção
Do tempo
A anoite  
Silenciosa e fria
Dorme comigo

Ainda chove
Lá fora
E a lua 
Apaixonada 
Disfarçada de nova
Acalma 
Meu coração.

Mirtes Waleska

Mirtes Waleska Sulpino nasceu em Campina Grande-Pb e reside em Boqueirão-Pb. É professora de História, poeta e autora de textos infantis. É uma das fundadoras da ABES - Associação Boqueirãoense de Escritores e  idealizadora da FLIBO - Feira Literária de Boqueirão. Entre seus livros publicados destacamos "Versos Expressos" e "Metáforas do Amanhã". Participou de algumas antologias a exemplo de Novos Poetas do Cariri e Ventre Urbano.



APRENDENDO A VOAR


Um dia saio de mim
de minha casa
do meu casulo
e desenho
- com poesia
borboletras
no céu




*****




INQUIETUDE


Não tenho sonhos
que me abram os olhos

tenho tormentas
que me dormem
pesadelos




*****




RÉQUIEM


De que são feitos
Os medos?
Palavra.
Poeira.
Caminho.
Deserto.
Solidão?
Largue fora
Os aforismos
Dispa-se na escuridão
Vista o que de simples
A vida traz:
Amor
Tesão.
Quem sabe...
Permita-se!
Una-se
Ao que te fa
Par,
O que te faz ser outro
ser beijo,
Abraço,
Orgasmo,
Laço
Multidão...
Permita-se!
E a vida te retribuirá...




*****



METALINGUAGEM


O língua do gozo
O gozo da língua
Acaso presente,
Ocaso fundido,
Passado e futuro,
Na metalinguagem.




*****



INQUIETUDE


Não tenho sonhos
que me abram os olhos

tenho tormentas
que me dormem
pesadelos

Fransued do Vale

 Fransued do Vale nasceu em Parnaíba-PI e reside em Rio Tinto-Pb. Professor aposentado e poeta, publicou os livros "Um certo Oriente" e "Mediatio".




PURGATIO

I

Nada tema nada tema
Com toda alma fora de cena
Pois tudo cabe na pena
De quem encena o poema




*****




3

Nesta dor que eu não escolho
Quem chora em mim antes do olho?
Como Noé que naufraga
Este choro me deságua




*****



ASCESE I

1

Diáfana vendetta
Na tarde sem nuvem
Quase borboleta
Nas flores que surgem




*****




9

Pouco dura a escura
Gruta que nos veste
A palavra dura,
Mas a luz a despe.


MEDITATIO

C

Torre alta pro levante
Ecos de ecos sem fim
Que nenhum fantasma espante
O que se esfumou em mim



Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...