segunda-feira, 13 de março de 2023

Valberto Cardoso

 Valberto Cardoso nasceu em Areia-Pb. É poeta e contista. Foi premiado em antologias  através do Concurso Nacional de Poesia Cassiano Nunes, pela UnB. Autor de livros como A invenção do dia e Assinatura. Reside atualmente em João Pessoa e seus textos estão disponíveis em alguns portais e blogs de literatura. Contato: bethocardoso@gmail.com

 


 

 

 

Mãos finas



A sala sem angústias
O sofá com falhas
O quarto como pedido

O tempo da entrega
Falta história pra

 

 

 

 

 

Aparição

 

 

Quando o amor quis passar,

Ela escovou o púbis.

 

Remediados

Girassóis brotaram da (quase) morte!

 

 

 

Pedido



Lílian gosta da segunda-feira
da fono
da físio
e do feijão preto

 

 

 

 

 

 

Movência



a um corpo que abandono
não há tempo pro descanso








ao abandono do salto
minha terra é ao teu lado.

 

 

 

 

 

 

Diário


O homem da vassoura acorda o bairro inteiro
Quer limpar a cidade a todo custo
Ele faz mais coisas que o prefeito

 

 

 

 

   O poema se faz no sábado

 

  O poema se faz no sábado

  Entre picados e loiras

 

  Ao fim da feira

  No momento em que se varre a rua

  Do sábado

 

   E segue o diário

   Na tentativa de criar

   Alguma palavra embriagada.

 

 

 

Atestado

 

Se fingir enlouquecer

Pede p’ra ficar comigo

A gente constrói um hospício

E chega bem pertinho do paraíso

 

Tem coragem?

Eu tenho

Se não der certo

A gente incendeia o resto

 

Mas se enlouquecer de verdade

Dizer frases amareladas

Como

eu te amo

se eu tivesse lutado

 

Eu compro o atestado.

 

 

Ato

 

Um corte ríspido, vermelho

No largo do teu olho

 

Vaza a lágrima

que se consagra

 

a morte:

rio verídico   



Leonardo Almeida Filho

Leonardo Almeida Filho (LAF), Campina Grande/Paraíba, 1960, professor, escritor, músico. Mestre em literatura brasileira pela Universidade de Brasília (2002), publicou Graciliano Ramos e o mundo interior: o desvão imenso do espírito (EdUnB, 2008), O livro de Loraine (Edição do Autor, romance, 1998), logomaquia: um manefasto (híbrido, 2008); Nebulosa fauna & outras histórias perversas (e-galaxia, contos, 2014 e nova edição impressa em 2021), Babelical (poemas, Editora Patuá, 2018), Nessa boca que te beija (romance, Editora Patuá, 2019), Grande Mar Oceano (romance, Editora Gato Bravo/Portugal, 2019 – Editora Jaguatirica, Rio de Janeiro, 2019), Tutano (poesia, Editora Patuá, 2020), Os possessos (romance, Editora Patuá, 2021), além de contos, crônicas e poemas em coletâneas, revistas e jornais.

Como músico (violonista e compositor) participou de diversos festivais e gravou o CD Papo de Boteco, uma produção independente, em 2017, disponível no Spotify e na sua página no Youtube.

 

Blog de poesia: www.poesianosdentes.blogspot.com.br

e-mail: leo.almeidafilho@gmail.com





Fabiano

 

 

A cama de seu Tomás
me encanta, ela me dizia
ela afirmava e sorria
nenhuma cama se equipara
à cama de seu Tomás. 

Sinhá, quem sabe um dia
te compro uma cama igual
tão robusta e tão macia
tudo isso eu respondia
por favor não leva a mal.

Por hora, sigamos no embalo
Da rede nessas paredes
Tenha fé e paciência
prometo, lhe compro um dia
a cama pra tua alegria 

Me deitarei no teu corpo
Estirado na cama nova
Novinha, novinha em folha
E faremos o nosso embalo
Nos corpos juntos, suados.

E ela então me perguntava
Sobre a cama prometida:
igual a de seu Tomás?
Aquilo sim é que é cama
Onde se sonha e se ama. 

E eu querendo um sorriso
Nos lábios da minha amada
Dizia: Sinhá, não chore
Terás sua cama nova
Verá que ela não tarda 

Não atentei para o fato
De como tomara ciência
Da cama de seu Tomás?
Na certa deitou-se um dia
De lá não saiu jamais. 

A Minha Sinhá não foi minha
Por que nunca fui capaz
De matar a sua sede
No embalo da minha rede
como a cama de seu Tomás.

 

Irrecuperável

                              Para meus velhos

 

Esse jovem
que me olha do espelho
traz dentro de si um velho
com seu silêncio
suas dores, suas cãs,
seu amargor

Guarda na alma
um desses
que mijam nas calças
e andam claudicando
divagando devagar. 

Esse velho insone
que habita o espírito
com seu cheiro de fralda descartável
caixinha semanais de remédios
fotos de netos e muitas receitas médicas
pressente o futuro. 

Desencantado,
sabe que a vida
lhe foge pelos dedos
a cada manhã
e chora escondido
lamentando o fim que se aproxima. 

Esse jovem
que me fita assustado
compreende a tragédia
e por isso
escreve, escreve, escreve

 Sabe que
tudo é tão bonito
tão perfeito, tão precioso
tudo é tão raro e valioso
que dói perder para sempre
este momento,
este instante
irrecuperável.


 

Medusa

                Para Mariele Franco

 

Que medo é esse
que o falo tem de não falar?

O que lhe falta
além do fato de que a falha
reside em acreditar
que a existência de sua fala
pressupõe fazer calar? 

O falo existe
ao fazer silenciar? 

Que teme o falo
a fêmea fala que conquista
sem pedir licença ou benção
o que é seu, sempre foi seu,
o seu lugar?

Cortar a cabeça
para cortar a língua?

Essa a medida
do falo para, à míngua
deixar a fala que o amedronta
em seus fantasmas mais terríveis
e que ele crê vir lhe castrar?

 Não vê o falo
que há incompletude em seu falar?

E que o que ele busca é a fala fêmea
ombreando-lhe na estrada
pela longa caminhada
completando o que lhe falta
a plenitude ao falar.

 

 

Ronaldo Monte

 Ronaldo Monte, nasceu em Maceió e residiu em João Pessoa. Foi poeta, contista, professor do curso de Psicilogia da UFPB, psicanalista. Publicou diversos livros de poesia e conto. Foi um dos mentores e fundadores do Clobe do Conto da Paraíba, uma oficina permanente de escrita criativa que ainda hoje existe e reúne nomes importantes com Mariília Arnaud e Maria Valéria Rezende. Infelizmente Rona já não está entre nós.



 

MANUAL PRÁTICO DE DESAPARECIMENTO

    Aprende a cruzar las manos,
    y gusta los aires fríos

      - Lorca

Visita cidades distantes
onde ninguém te conheça
nem entenda tua língua

Passeia pelos desertos
ao sol do meio-dia
onde não deixes sombra
nem rastro

Aguarda o cair da tarde
na solidão do teu quarto
até que te diluas em sombras

Anoitece
aprende a desamanhecer

 

***

 

NUDEZ

Um dia cairá de teus ombros
o manto da memória.

Despida de ti,
entrará tua alma na mansão dos mortos
ao derradeiro som do remo de Caronte
que volta para apagar
os teus vestígios pelo mundo.

 

***

 

MÃOS DADAS
Para Glória

Deram-se as mãos.
E achando pouco, os dois deram-se as bocas.

Queriam mais.
Então, deram-se os corpos.

E muito mais tiveram para dar
assim presenteados um ao outro.

 

***

 

FONTE

    Para Glória

Teus sonhos não são enigmas.
Olha-os com calma:
eles são a fonte dos enigmas.
Tua fonte.

Não busques, portanto,
o sentido dos teus sonhos.

Dorme, apenas.

E deixa que desfilem
teu mistério
no chão do sono.

 

 

SEGUNDA CHANCE

Se for achado em Gaza
um menino em uma manjedoura,
rodeado pelos pais,
três magos
e alguns bichos,
por favor, protejam-no.
Pois a matança dos inocentes
já começou
e a rota de fuga para o Egito
está interditada.

 

 

HERANÇA

Cuido com carinho
das palavras que herdei.
Das antigas e das novas.

As antigas,
gordas de sentido,
deixo-as descansar em minhas mãos
antes de lançá-las
de volta ao carrossel dos signos.
Relíquias
impregnadas de hálitos ancestrais.

As novas,
verdes de memória,
guardo no berço das mãos
até que estejam prontas
para a ciranda dos verbos.
Pontos luminosos
no discurso opaco do cotidiano.

Novas antigas palavras.
Herança e testamento
de minha breve passagem pelo mundo.

 

***

 

Ad Eternum

Sexta-feira de noite não te amava,
pois consumiu-te rápido entre as pernas
o salário suada da semana.

Bêbado no bar deixou-te o sábado
Com as esperanças perdidas e a conta a pagar
(a realidade usa gravata borboleta).

Esquece-te domingo na porta da igreja
e vai segunda-feira teu cansaço
arrastar nos escritório e oficinas.

Organdi e tafetás
são hoje lycra, índigo blue-jeans.
É o mesmo, porém, teu velho sonho.
E com ele mijas os eternos meio-fios
Das ruas sonolentas do subúrbio.



***



Carta de Pedra

Sono de pedra
no leito do rio.
Sonho de pedra:
Enigma ingá.

Como quero te arrancar
das entranhas desta rocha.
Quanto desejo o recado
marcando lugar e hora
do encontro com teu sentido.

Antes da história
alguém me ama
e escreveu esta carta para mim.

Afago a letra da pedra
e encontro o calor antigo
das mãos do antigo poeta.

Enigma ingá.
Carta de amor
aberta.
Impenetrável.


***

 

Teclagem Noturna

De tua vida por um fio
A morte tece seus panos.

Dia-a-dia, zig-zag,
cresce no chão o novelo
que a sinistra tecelã
virá de noite roubar.

Pé-ante-pé, plec-plec
(a morte usa chinelos),
leva teus fios vividos
prá de noite, tlec-tlec,
alimentar seu tear.

mesclando teu tempo inútil
com o enfado do teu trabalho
num só tecido inconsútil
do teu último agasalho.




***



Lições da tarde

Com a tarde nova
aprendo que tenho sombra

Com tarde alta
aprendo a cair em silêncio

Com o fim da tarde
aprendo a ir embora

Com a tarde morta
aprendo a lição do nada.

 

 

 

domingo, 12 de março de 2023

Violeta Formiga

Violeta de Lourdes Gonçalves Formiga nasceu em Pombal e morreu em João Pessoa em 1982. Um caso clássico de feminicídio. Foi poeta e psicóloga formada pela Universidade Federal da Paraíba. Publicava seus poemas no Jornal A União e especialmente no suplemento Correio das artes. Publicou dois livros de poemas. “Viver é amar a vida sem definições. Viver é desabrigar os demônios e conviver com os Deuses”. (Violeta Formiga).

 


 

 

 

AFETIVIDADE


Sou.
Estou.
Indefinidamente
vou.

 

*

 

VIVÊNCIA


Faço poema
como quem faz
pão:
faminta e necessária.

 

*

 

DO LADO ESQUERDO

Sou o sentido contrário
das coisas cálidas,
pálidas,
serenas.

O deserto,
o incerto,
o incesto,
a cena.

 

 *

 

NASCIMENTO


Saio de mim mesma
como pássaro
do ovo.

De espaço e asas
faço meu aprendizado,

Mágico voo.

 

 *

 

O TEMPO

O tempo
passa como o vento
com as estações
passado-presente.

O tempo
desconhece as cores
incolores do silêncio.

O tempo
segue sem trilhas
as linhas infinitas
do momento.

 

*

 

AFIRMAÇÃO


A poesia
nasce do dia.
Não deixe que eu morra,
me sinta.
É assim que eu sou
alegre e triste,
eterna e não efêmera,
amante do belo
e da miséria, companheira.
Não me evite,
me tenha
mesmo guardada em segredos
ou exposta ao sol
e ao vento.
Não tenho tempo fixo,
nem infância, nem velhice
e me faço sempre presente
onde a vida insiste
e resiste
persistente.

 

*

 

GAVETAS

 

Ficou detido
no armário
um beijo.

Era cedo.
Igual ao frio
que na madrugada
chega.

Até então
eu pouco sabia
de confissões
e medo.

 

*

 

ROMANTISMO

 

Vida
faço e sou feita
de sentidos.

Bebo vinho
escuto uma sonata
e me abrigo


numa grande noite
de um mundo
antigo.

 

*

 

DEDICATÓRIA

 

Acasalada
feito pássaro
deixa-me voar
desfeita.





MAGIA


Construir no teu corpo
meu castelo,
fortaleza de árvores,
pontes e anúncios,
provar o fruto maduro,
transformar dores em flores
silvestres
e o dia amanhece.
(universalmente amanhece)
sentir o orvalho,
aroma
de tudo que apodrece
atrás do muro,
dentro da lama,
onde a vida se revela
sem mistérios.
E entre o muro
e o castelo,
teu corpo dança nas estrelas,
dança na fogueira
a dança dos deuses
e demônios.
Eu tento atravessar
a corda,
abrir a porta,
mas sobre o deserto,
o gesto
permanece mudo.

 

*

 

INFÂNCIA

Como se ontem
fosse
sentados juntos
na areia.

Éramos suficientes.

 

*

 

SUBJETIVIDADE

 

As cores do outono,
as flores da primavera,
o encontro com a chuva,
o vento.

O silêncio das madrugadas.
O silêncio do silêncio,
o silêncio da vida,
silêncio.

 

*

 

ESSÊNCIA

 

Procuro
o cerne,
encontro
o verme.

será ela?

 

*

 

RECADO

 

Quantas luas
se passaram
dentro do quarto,
no anonimato,
no outro lado
do asfalto
onde minhas mãos
procuram
extrair das tuas
o permitido
afago.



 

PRIMAVERA

Partida ao meio
entre deuses
e demônios,
me concebo.


*


INTEIRA


Minha vida
por uma única
palavra:

liberdade.

(Então eu
serei feliz
como os anjos
que ainda não
nasceram).

 

*

 

SENSAÇÕES

É simples.
Não me aproximo.
Tenho medo.
Você não compreende
como o deserto
cresce.
Você não entende
o desejo latente
contido em cada
gesto.
Da solidão,
sensações.
(Se você soubesse).

Annecy Venâncio

Annecy Bezerra Venâncio nasceu em João Pessoa-PB, onde ainda vive.  Possui graduação em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, com especialização em Língua, Linguagem e Literatura – CINTEP, e mestrado em Letras-PROFLETRAS-UFPB. Atua como Professora efetiva de Língua Portuguesa nos Estados da Paraíba e de Pernambuco. É Poetisa e Cordelista. É membro da Academia de Cordel do Vale do Paraíba – ACVPB, do Coletivo Marias da Poesia, e do grupo Mulherio das Letras.



 

CACTO NO SERTÃO

Sou mulher com muito orgulho,

Paraibana, nordestina,

Melodia cristalina,

Na poesia, eu mergulho.

No coração, eu vasculho,

Lindo verso de paixão,

O cordel, é inspiração,

Meu lugar é referência,

Eu me chamo resistência,

Como um cacto no sertão!

 

PARAÍBA

Sou Paraíba, não nego.

É meu berço, minha gente,

Um povo de honra, valente,

Xenofobia, abnego,

O preconceito, renego,

Paraibada inexiste,

Neologismo que insiste,

Em desfazer a beleza,

A nossa grande riqueza,

Que com poesia resiste!

 

MARIA PIMENTEL

 

Nossa Maria Pimentel

Desbravou novo caminho,

Fez história com carinho,

Nas edições em papel.

Nos inscritos de Cordel.,

Revelou ser grande artista,

Para nós, grande conquista,

Pseudônimo externava,

Versos que o peito guardava:

A primeira cordelista!

 

CHICA BARROSA

Mulher negra, inteligente,

Cantadeira, sertaneja,

Combatia com peleja,

O machismo intransigente.

Num repente diferente,

Repentista valorosa,

Cantava Chica Barrosa,

Recitava no improviso,

No rosto um forte sorriso,

Uma joia majestosa!

 

MARIA SOLEDADE

 

Lá na terra do pandeiro,

Tá tocando uma viola,

Ouço o som da radiola,

Um compasso bem ligeiro.

E que lindo linguageiro”,

Traz Maria Soledade,

E não importa a idade,

Na cantoria do repente,

O encanto é de toda gente:

REPRESENTATIVIDADE!

 

Lourdes ramalho

O nome dela é Maria

É norte-rio-grandense.

Adotada campinense.

Estrela na poesia,

Dama da dramaturgia.

Escrevia em cordel,

Fantasias no papel,

No teatro era feliz,

Seu sonho era ser atriz,

Eis seu retrato fiel.

 

 

 

Zezita matos

 

Zezita Matos, cultura,

É mãe, mulher, poesia,

Para nós é alegria,

Na tela atriz de postura.

É deslumbrante pintura,

Pessoa, amiga, humana,

A referência que emana,

Orgulho da nossa gente,

No meu verso reverente,

Zezita paraibana!

 

 

 

sábado, 11 de março de 2023

Silvino Pirauá

  

Silvino Pirauá de Lima nasceu em Patos em 1860 e faleceu em 1913. Fugindo da seca, mudou-se em Recife. Foi cantador e poeta popular. Publicou folhetos de cordel como História de três irmãs que queriam casar, História do capitão do navio, História de Zezinho e Mariquinha, A vingança do Sultão. É considerado o inventor do romance em versos.

 


 

Necrológio de Francisco Romano

Na era 91
No centro paraibano,
Dentro do termo de Patos,
Em março do dito ano,
No primeiro desse mês
Morreu Francisco Romano. 

Ele, antes de morrer,
Tinha em casa destinado
De ir buscar uma imagem
Com quem tinha se pegado,
Mas antes dessa viagem.
Primeiro foi ao roçado. 


Pegou o chapéu, saiu
Com uma faca na mão
E uma foice no ombro,
Foi tapar um boqueirão,
Embora fosse domingo,
Mas havia precisão.


Justamente foi o tempo
De a hora lhe ser chegada...
Romano dentro da roça,
Morreu de morte apressada:
Apagou-se aquele esprito,
Seu corpo virou em nada.


Foi num dia de domingo
Esse caso acontecido...
Nesse dia, às quatro horas,
Foi Jesus Cristo servido:
Duma morte violenta
Romano foi falecido. 


De bruço caiu em terra
Com a tal faca na mão,
A outra mão sobre o peito,
Em riba do coração,
A foice do outro lado,
Bem junto dele, no chão. 


Nesse entre, um filho dele,
Tendo de ir ao roçado,
Pra dar água a uns animais,
Por seu mano ter mandado,
Chegou, foi vendo o cadave
No chão, morto, istoporado. 


O menino, quando viu,
Ficou cheio de agonia
De ver seu querido pai
Se acabar naquele dia...
Foi levar a notiça à mãe,
Coitada, que não sabia! 


Choroso voltou pra trás
Do caso que aconteceu,
Foi chegando e foi dizendo:
- "Ruim notiça trago eu!
Minha mãe, meus irmãozinho,
Meu querido pai morreu!" 


Em casa o choro foi tanto
Que fez um grande alarido,
A mulher correu pra roça,
À procura do marido,
Não morreu de sentimento
Porque Deus não foi servido. 


Atrás da pobre mulher
O povo todo seguiu...
Quando ela viu o cadave
Por cima dele caiu,
A prece que fez ao céu
Parece que Deus ouviu. 


Voltaram tristes pra casa,
O choro ninguém continha,
Romano veio numa rede,
A mulher em braços vinha,
Mandaram comprar mortalha
Na rua, de noitezinha.


Eu senti a morte dele,
Que ninguém não esperava!
Quando me veio a notiça
Que Romano morto estava,
Logo me veio à lembrança
O tempo em que nós cantava.


Conheço, desde esse dia,
Cantador entusiasmado...
Todo mundo quer cantar,
Cada qual dá seu recado
Porque quem se respeitava
Ja está em cinzas tornado!

Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...