quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Antônio Aurélio Cassiano

 Antônio Aurélio Cassiano é poeta e formou-se em História pela UFPB. Nasceu e vive em Triunfo, no Sertão da Paraíba.Ao longo da vida, desde adolescência, sempre escreveu poemas e textos reflexivos, resenhas e artigos  que abordam a história e os principais aspectos culturais do município de Triunfo. Noano 2000 publicou seu primeiro livro  de poemas, "Sobre memória e solidão". Depois publicou Memorando 42. recentemente publicou Poemas Embalados a vácuos, pela Editora Arribaçã.

 

 




 

****

 

Haverá a hora

A última

A derradeira

Haverá o recomeço

O tempo do tempo

A revelação

Haverá a escuridão

Luz no tempo

Das coisas

Dores mortas

E os códigos

Serão renovados

A História vai começar de novo

Não tem mais tempo

Só passagem

E o passarinho lentamente alça voo

 

 

****

 

 

Porteiras

Tramelas

Agô

Porque a parte

De mim que deságua

É Oxum

A parte que

Reza

Oxalá

A que planta

E que colhe

Ossain

O caçador de mim

Mil tons

De Oxóssi

E no mar

Filho peixe

De Yemanjá

Para as injustiças

Eu tenho o duplo

Machado

As correntes rompidas

Chicote em açoite

As saias de Oya

E do ferro ergue-se

Os caminhos do saber

E a guerra das manhãs

Nós irmãos

Iberês

E a doçura do afeto

Ewa

O ciúme

E a orelha

A beleza

Escondida

Pipocas Atotô vida

E o filho do rio

Com o caçador

Reluz na manhã dourada

O arco-íris

A cobra

O disfarce

Obá

Espada

Despida

E por fim

A lama

Mãe de todos nós

 

 

 

****

 


Quando eu for morrer

Tudo que quero

É uma cama

Uma dor

Uma mão segurando

A minha mão

Um vela de cera

Uma excelência

Cantada como

Um rock'n'roll

E as dobras do tempo

Me espalhando pelo chão

Quando eu for morrer

Gostaria de estar

Sorrindo

Mas morrer dói

Como

Nascer

 

 

****

 

Tenho a dor como

Companheira

Mas a alegria

Como profissão de fé

Tenho o amanhã

Como possibilidade

E a eternidade

Como devaneio

Deus

Sou eu

Ele

É o meu desejo de salvação

Não sei de quê

 

 

****

 

 

Como a cor do tempo

Tinge as portas

As janelas

As paredes

As casas

E quem mora nelas?

Como o tempo

Tinge

As aparências

Para esconder

Sob o zinabre que oxida

Histórias?

O tempo envelopa

Suas presas

Para que um dia

As que resistirem

Se revelem

E abram as janelas do passado

E nós

Que no futuro

Também seremos passado

Olharemos para o monte onde moram

Os Deuses

E que se ergue em nós?

Nós

Espalhados

No tempo

Como poeira

De estrelas

 

 

****

 

 

No mais das vezes

Somos as sobras

De nós mesmos

E de tão pouco a cada dia

A cada dia

Nos tornamos mais raros

Somos as águas

De um rio largo

Que arrastou barrancos

Dragou barcos

Mas deixou para traz as pedras

E os caminhos que não pode levar

Nós nos alongamos

No tempo e

Ao mesmo tempo

Estreitamos nossas margens

Até nos tornarmos um fio d'água

Um pingo

Um pingo que

O calor do sol

Vai fazer evaporar...

 

 

****

 

Nasci dos galhos

De uma frondosa

Mangueira

Meu sangue guarda

A cor das misturas

Ibéricas

Dos árabes

Conquistadores

Das dores que pariram Portugal

Sou sobra dos disfarces

Que esconderam os judeus

Da sanha da inquisição

Sou cristão novo

Misturado a índio Icó

Sou brasileiro negro

Eu sou filho

De muitos Deuses

Vindos de terras distantes

E nascidos no quintal do meu avô

 

Marcos Tavares

Severino Marcos de Miranda Tavares é paraibano de Ingá do Bacamarte e foi um dos fundadores do Grupo Sanhauá. Autor de textos para teatro. Publicou Fuzuê e Finados, Dual dos Incriados, Réquiem para a Confederação dos Tamoios, Agora o pavão sem mistérios, Notícias de Jornal, Algumas histórias e outros poemas. O poeta faleceu em 2020.





a moça em alto contraste


I
jogou seus sonhos de amor
no barco de um marujo
naufragado
perdeu,
a virgindade e o seu lugar
no álbum.
meu tio arrancou o seu retrato
e escondeu, sob o bigode, o riso.
há uma página vazia
no álbum e na lembrança
um medo imortal
que dança
um can can sobre a memória.
2
honrava pai e mãe até o dia
que o marinheiro atracou no seu
porto.
o velho quase morre
de desgosto
mas a moça detestava
a calmaria.
desenrolou as velas e partiu
dançando um fox trote.
arrancou a âncora do útero
e navegou em direção à vida.
3
ficou no cais
esperando o navio
mas foi o tempo
quem passou
içou as velas do leito;
e a noite, audazes marinheiros
lhe abriam a quilha
fez água
e naufragou um dia
com os porões cheios
de mágoas. *****



TRÊS BOLEROS CARDÍACOS Bolero -1


nada que é vidro é eterno, blindado coração de ferro por que me atraiçoastes? não te bastava então a lima dos meus dentes, roendo o vai-e-vm do pranto, precisavas tanto de um cristal? blindado coração! em que inferno cosi tua limalha, essa tralha enorme de saudade.

bolero 2


a letra A quer dizer amor perfeito. e a letra C, de que coração fala? não fala, cala.



bolero 3


doutor, afine esse diapasão. meu coração anda ultimamente, num ritmo que não quero. devolva-lhe o bolero ou me retire do salão. *****




Por que

me Ufano de  

 

  1. É um pássaro, um avião?
    Não. É Bartolomeu Gusmão
    na sua passarola. 

Ê um pássaro, um avião?
Não. Ê Santos Dumont
que decola e pede bis
em Paris.

 

Manuel de Abreu um dia

descobriu que a abreugrafia

lhe mostrava o lado interno

o inferno de Kock

a tortura do bacilo

um três por quatro da tosse.

 

2.      Nessa terra de porvir
à beira do abismo

a solução é descobrir
o mais pesado que o ar,
ou então vasculhar
a caverna pulmonar
a tísica galopante.

 

3.      O mundo inteiro garante
que Deus é brasileiro

e que Portugal cabe
inteiro no Piauí.

 

O melhor está por vir
nessa beira de abismo
quando o país decolar
morrendo de hemoptise
com Santos Dumond no leme
Manuel de Abreu no timão

 

um auri-verde avião
uma nave interestelar
apontada em direção
dos buracos do pulmão.

 

 4. Uma nave carregada
de imensa sabedoria
bem mais leve que o ar
mais tênue que a abreugrafia

uma película de sangue
uma golfada de ar,
tão interno aeroplano
que decola numa tosse
como nave pulmonar.




*****

 

 


 

lição de pintor – I

deixe que o traço
como tiro
rompa o branco do papel

feche a íris
do olho, arco, mire,
dispare o pincel

feixe de luz, prisma
incompleto.  veja
pelo ângulo reto.




*****




natureza morta com casa

não sei
se minhas palavras voarão;
não sei sequer se terão asa.
mas elas estão dentro de mim
como uma casa dentro de outra casa.


não sei
se minhas palavras voarão,
não sei sequer se serão fala


mas, se conversamos
é uma pena.
outras palavras
de outros poemas,
vagam dispersas pela sala.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Priscilla Cler

 Priscilla Cler nasceu em Belo Horizonte – MG e reside em João Pessoa – PB. É atriz (bacharel em Interpretação Teatral pela UFMG), cantora e professora de canto (licenciada em Música com habilitação em Canto Lírico pela UEMG) e Mestre em Artes pela UFMG. Seu primeiro livro, Poesia Cretina, foi lançado recentemente pela Editora Urutau, integrante da coleção Quem dera o sangue fosse só o da menstruação.



 

 

Não Sabia como Extrair os Sumos da Língua

 

por tempos pensei
que pra extrair os sumos da língua
era necessário
luxuosamente literalizá-la

tentei
rebolando o léxico
e foi língua raspada com lixa
lavada com sapólio
lustrada com lava e lavagem

mas uma língua
ladrilhada de brilhantes
uma língua esfoliada
e esfoliante
não se alerta
não se alaga
não soluciona
não soluça
não revela

língua é feita de laço e papila

o dia em que minha língua sangrou
foi porque tinha um olho nascendo nela

desse delírio sublingual
extraí dela
elixir
plasma
lágrima
e linfa

gatilho gatilho

nada disso era o sumo da língua

o único sumo da língua é saliva
concluí já enlouquecida
e o único jeito de extraí-la
é aquela
boa e velha
lambida.

A Música que eu Sou

 

Chego invariavelmente pontual
Na hora do meu fim
Atrasada no ceder
E adiantada no se dar

O momento exato de me perder é sempre o agora

Confundo velocidade e ritmo
Porque ainda não compreendi
Os fundamentos básicos
Das subdivisões dos meus tempos

[Eles são pequenos lapsos de existência
Que habitam o vão entre os meus pulsos]

Por trás das minhas grades torácicas
Tenho, aprisionado,
Este velho metrônomo quebrado
Que, revoltado,
Vai parando aos poucos
Me ralentando consigo
Pro mais profundo dos adágios

Mas a vida é ad libitum
E sou a única intérprete
Desta composição livre chamada eu

O momento exato de me (re)compor é sempre o agora

Senti voltar a pulsação do meu peito allegro
E me vi capaz
De recuperar cada um dos tempos
Que um dia me foram rubatos

Desde então
Não fui mais música no tempo;
Me tornei música no espaço.

 

Passaralha

Manhã em tempestade de sol
Passarinhos que gorjeiam palavrões
Mar sereno e calmo, bom pra afogar-se
E o livro engraçado de poemas que dá vontade de morrer
Isso tudo parece bem doído e dramático e triste e pesadão
Mas tá tudo certo
É só uma segunda-feira pós feriado
E todos
– salvo os que não sobreviverão –
seremos atravessados por ela

Eu sou um desses passarinhos
Acordada e pousada no fio de mais alta tensão
Uma espécie de bem-te-vi do mal
Cantando linda aguda afinadamente:

– Vai tomar no cu! Vai tomar no cu!

 

Movimento

 

Amar, desamar
Sentir coisas de tantas naturezas
E deixar de senti-las
Sentir as entranhas se revirarem
E senti-las se reorganizando

O corpo sempre nesse movimento

Em que o coração e o cu se confundem

 

A Música Bate no Tímpano

 

a música bate no tímpano
do tímpano explode o choque
chega no pé, pula pro peito
faz craquelar a capa do coração;
eu fico muda
(coisa que nunca acontece)
e minha cara congela:
dois olhos fritos
profundamente mexidos
os cantos da boca
apontando pra baixo
o balanço da cabeça
(as)sentindo
sem saída.

numa hora dessas
eu não sei fazer mais nada

 

Corpovoz

 

braço prolongado no espaço
varador de kinesfera
a parte do meu corpo que me projeta mais longe

mão tem voz
peito tem voz
olho tem voz

voz é arma
faca revólver bomba
voz é imagem
metáfora sólida e lombra

EU ME DEFENDO COM VOZ E VERDADE
voz é jeito fortíssimo
de chicotear o opressor

voz não esconde nada
é tímida nudez

voz se engole
voz se revolve
voz se lê

voz
mesmo em silêncio
revela
voz é oráculo
da alma
a tela

 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Lúcio Lins

 Lúcio Lins (1948/2005) nasceu em João Pessoa. Formou-se em Ciências Jurídicas e foi funcionário da UFPB. Publicou “Lado que cavo/que covas”(1982); “As lãs da insônia” (1991); “Perdidos astrolábios” (1999). Publicou seus poemas no Correio das Artes, Revista Usina, Revista Ler, Suplemento de Minas, entre outros.




Nos anos 70 integrou o Movimento Jaguaribe Carne, ao lado de Pedro Osmar, Paulo Ró, Chico Cesar e outros artistas. Nos anos 80 fundou o Bar Travessia que movimentou a cena cultural da cidade. Teve parcerias musicais com Byaya, Mestre Fuba, Chico Cesar, Zé Wagner e Adeildo Vieira.

 

 

vestindo o poema

 

meu exercício
de voar
é pousar
na imaginação
das asas

é fazer ninho
com as palavras


 

a reforma


faço poemas
reformando a casa

sento cerâmica
no papel
e os pedreiros
sentam palavras
na sala

sou eu
que estou em silêncio
são eles
que têm a fala

 

 

 

delírio de gari


os urubus
são aves
do paraíso

os anjos
são urubus
travestidos

(dei-me ao luxo
de catar isso)

 

 

 

fora do circo


domar a fera
é mais que o espetáculo
de levar ao público
as garras já domadas

domar-se a fera
é não entrar na jaula

 

 

 

imagens


o T de tv:
antena externa

o V de tv:
antena interna

(a imagem é minha)

 

 

 

um itinerário de leituras


a traça
tem algo de erudito
e uma preferência
pelos mais antigos

de muitos
conceitos de amor
a traça se alimentou
palavra por palavra

demais
lições de vida
pela traça foram lidas
página por página

a traça
tem algo de cético
devora os textos
e não vive dos inéditos





duas margens


quando o tempo
me cobrir os céus
com a anágua suja
da tua espera
e teus lábios
forem duas margens
um
gritando calmaria
outro
clamando tempestade
eu voltarei
de corpo e barco
e por ti
seguirei minha viagem

navegarei
entre teus braços
e segredos
eu
serei teu búzio
tu
serás o meu degredo


 



Cabo Branco


extremo Cabo Branco
estranho trampolim
ao contemplar o Atlântico
o mar mergulha em mim

 

 

 

 

 

memória das águas



sei do mar
do seu sal
suas palavras naus
e toda paisagem
uma vista de Portugal

sei do mar
do seu longe
sua história mangue
e o marulho das ondas
uma linguagem lusitana

sei do mar
que o mar
ainda é um silêncio
e a palavra mar
um oceano de palavras






bodas de ouro


passaram-se
os anos
e eles ainda
passam
um pelo outro

quanto são estranhos

 

 

 

história flutuante


não tenho horizontes
tenho sonhos à vela
e a tempestade da história

não tenho mapas
tenho cartas anônimas
e os gritos de seus náufragos

não tenho mares
tenho a garganta seca
e as palavras navegáveis


terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Aderaldo Luciano

 Aderaldo Luciano nasceu em Areia-Pb. Pesquisa a poesia e a música dos povos brasileiros. Publicou “Engenhos, estradas, sinas”, “Era um espinho no olho e aFlor da lira no peito”, “O nome do cantador”, “Quero morrer na caatinga e “Apontamentos para uma historia crítica do cordel brasileiro”.



 

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As noites dos solitários
São longas, profundas, frias.
Da mesma forma, seus dias
Se perdem nos campanários.
Mesmo os códigos binários
Das redes de informação
São buracos de emoção,
Ratoeiras nas esquinas,
Cadafalsos, guilhotinas.
O Mundo é Grande Ilusão

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Sou o barro dos oleiros

e o fogo que queima o barro
Sou o carro sobre as rodas
e guio as rodas do carro
enquanto o mundo se perde
aos meus achados me agarro!

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A quem adora pastéis,
A quem quer caldo de cana,
A quem maldiz a semana,
A quem leiloa os anéis,
A quem engana os fiéis,
A quem manipula a massa,
A quem devora linhaça,
A quem não lê a receita.
A quem sofrer de maleita:
Se livre dessa bagaça!

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A quem pediu sem querer,
A quem deu sem ter certeza,
A quem procura moleza,
A quem buscou se perder,
A quem fala sem dizer,
A quem tá preso à mordaça,
A quem tenta e só fracassa,
A quem quer ser cozinheiro.
A quem só pensa em dinheiro:
Se livre dessa bagaça!

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Plantei um pé de liamba
No jardim que vou sonhar
Quem mora no jardim, sonha
Quem não sonha, quer morar
Fica pra cá de Los Yungas,
Mas de Alfenas pra lá
Mesma trilha da ayahuasca,
Mais do que maracujá,
Aproximada ao peiote,
Vizinha do juremá
É Liamba de Caboclo,
Meu coração milenar.
Olhei um dia em suas flores
Nelas vi um mangangá,
Abelhas, vespas, formigas
Gostam do seu farfalhar
Ela se aventura ao céu,
Também gosta de hibernar
Vezes fica só o caule,
Porém num pestanejar
Abre-se em pequenas mãos,
Cumpre-se em belo arvorar
Plantei um pé de liamba
Sagrada no meu gongá.

****


 


 

****

Quando canto, o poema se alvoroça
A viola se esquece de ser ela.
Outra alma, de mim, logo se apossa
Outra vida escancara uma janela
Eu me vejo habitando outra palhoça
Outra Mãe, ao meu lado, senta e vela
Para além dos limites conhecidos
Eu visito ancestrais já esquecidos.

****

 

 

****

Caminhávamos, noturnos,
Apontando a Trilha da Anta.
Todo o silêncio nos corpos,
Sonidos, penas, gargantas.
Constelações levantadas
(faíscas, lampejos, tranças)
Um vento fino assoprando
Os galhos finos das plantas.
As folhas dançavam leves
Nervuras, palmas, membranas.
O coração dos planetas
Pulsando, pontas de lanças
Nos dando ordens expressas,
Como antiga governanta
De um castelo abandonado
Em Carnaúba dos Dantas.
Sob o céu de Jericó,
Vencedor de léguas brandas,
Nos levando a Catolé,
Onde o ferro se aciranda.
Nunca mais aquele céu
Me veio, ocasião santa.
Eu e a Noite caminhando,
Imersos na Trilha da Anta.

****

 

 

João Damasco Braga

 João Damasco Mangueira Braga nasceu em Cajazeiras-Pb, Reside em Campina Grande onde é professor aposentado do Curso de Engenharia Elétrica da UFPB. Graduado também em Letras pela UFPb, dedica-se atualmente à Literatura. Publicou o livro Rabo de Cutia.



RASGA MORTALHA


A rasga-mortalha grasnava:
sinal ruim, morte na casa.
Instaurava-se o medo,
que era falso, não era medo,
pois lá pela quarta vez
a rasga-mortalha já estava
desmoralizada.




BAGAÇOS
                   Para Adeildo Pereira


A cana chupa o homem.

Doçura,
fibra e brancura,
por entre os nós,
por trás da casca,
da pele escura.

O homem chupa
           a cana
chupa
           o homem.



PREDADOR

O urso negro era belo.
Senhor de implícitos limites
na branca planície,
acomodou-se na gruta
presumindo instintivamente
a segurança do abrigo.

Espreitava-o com fome
um urso cinzento,
na afoiteza bruta
de violar o domínio alheio,
no desespero de ser
acossado por outros
mamíferos
plantígrados,
predadores insensíveis
- homens sem cor.



IMAGEM E
SEMELHANÇA


A Ideia do crepúsculo
A Criadora Palavra
O crepúsculo

A Ideia do homem
A criadora palavra

O homem

A ideia do poema
A palavra crepúsculo
Um poema

Semelhança e imagem.




VIDA


Sylvia Plath foi dormir cedo,
mas um poema acabado
não desaparece.




OUTRO RECRUTA
                                  Para Edilson Amorim


lia Oswald
e disse também à namorada:
Se morrer, venho te ouvir cantar.
Sobreviveu à guerra,
conheceu uma gringa
e ficou morando por lá.



ENCONTRO


Mergulhar no poema
deixar-me lavar.

Pelo rio do teu corpo,
deixar-me levar.

No vau do poema
do teu corpo,
de mim para mim,
sem retorno passar.









Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...