Eudes
Barros (1905- )nasceu em Alagoa Nova-Pb. Fez seus estudos primários e
secundários em João Pessoa. Muito cedo integrou-se na vida intelectual como
poeta e prosador. Depois participou ativamente das atividades jornalísticas na
Paraíba, em Pernambuco e no rio de Janeiro. Escreveu seu primeiro livro de
poemas na adolescência. “Fontes e Paues” foi publicado pela Imprensa Oficial da
Paraíba em 1920. O poema Êxodo, aqui transcrito, foi publicado neste livro. Em
1928 lançou também pela Imprensa Oficial o livro Cânticos da Terra. Em 1937 lançou
o romance Dezessete.
JESUS BRASILEIRO
Jesus do meu
País! foi a Maruja em festa
que te trouxe na cruz das velas de Cabral!
E na primeira missa-aqui-foi a floresta
tua primeira catedral!
Nos teus natais,
aqui, não há neve lá fora...
Mas luares mornos! (e que festas! é de vê-las...)
É aqui que Jesus mora! E' aqui que Jesus mora!
crucificou-se aqui... mas numa cruz de estrelas!
No meu País não és um Cristo moribundo
mas um Jesus de glória e de Ressurreição!
Salve, ardente Jesus do Novo-Mundo,
que nos sorris do céu numa Constelação!
As tuas bênçãos descem da amplidão acesa
para florir e fecundar a terra virgem e feliz!
Ó Jesus-Lavrador! ó Jesus-Natureza!
Jesus do meu País!
*****
ÊXODO
Passam nas ruas,
pelos caminhos
Bandos mais bandos de pobrezinhos.
Da cruel seca
vítimas são,
Mestros
filhinhos do almo Sertão...
Deixam saudosos
a sua terra
Que hoje
tristeza e dor encerra...
Tinham as faces
cor de romã.
Eram risonhos como a manhã...
Ouviram sempre
cantar nos ninhos
Os bardos d'asas-os passarinhos...
Hoje vagueiam
tristes e exsues
Sob o zimbório dos céus azuis!
Quantas
saudades, quantas lembranças
Se ocultam n´alma dessas crianças!
Jesus bondoso! Filho
de Deus!
Tem piedade dos filhos teus!
O Sertão ontem
era florido
Mas vê-se agora
triste e dorido...
O Astro do dia
queima com ardor
Aqueles campos cheios de dor!
Os pobrezinhos
são como as flores
Murchas, pendidas e sem olores...
Mui andrajosos
de par em par
Andam nas ruas, vão esmolar...
Como eles andam
tão fatigados!
Como são pobres e desgraçados!
Mestos filhinhos do almo Sertão! (1919).
*****
(...)
Estamos ainda às tuas águas próximas – América!
Sabemos-te ainda da existência imensa – como há cinco séculos
pelos sargaços e aves marinhas do último dia da aventura de
[Colombo.
Não tomamos ainda posse do teu gênio livre em nome
[de Ti Mesma!
Somos olhos que se abrem num deslumbramento eterno
diante de Ti – do teu Mistério! O teu mistério
[verde...
Homem do Novo Mundo!
título virgem, druídico, profundo,
que (por associação de ideias) nos traz logo aos olhos
[e ao espírito - o Amazonas
que do Peru nos manda, como uma vitória-régia, em suas
[ águas, a alma de Chocano...
Santos Chocano! Legendas cheias de sons imensos
[Os sons da América!
Homem do Novo Mundo!
título altivo como o de Condor dos Andes!
Condor dos Andes... Castro Alves! Grito de epopeia do
[Continente!
Homem do Novo Mundo!
título virgem, druídico, profundo
milenar como o esplendor submerso dos Astecas;
tentacular como New York... New York! Broadway!
[Luz! Luz! Luz! Luz!
Deslumbramento! Petróleo! Radium! New York!
tentacular múltiplo livre como um poema de walt Whitmann!.
(...)