Angélica Lúcio nasceu em Patos, no Alto Sertão da Paraíba. É jornalista profissional e poeta. Participou de algumas antologias paraibanas. Ainda inédita em livro.
"Angélica Lúcio trabalha com rigor e economia nas palavras. Há em seus poemas um tenso equilíbrio entre o elemento mineral , que serve de referência à maioria das imagens, e a inquietude de uma alma que oscila entre os apelos da carne e a salvação."
(Chico Viana)
Por vezes,
me sinto pedra
pele salgada
sob a língua vermelha
em esgares de náufrago
estátua translúcida
sumindo em saliva:
a eterna mulher de Lot.
Pérola
Minha dor é molusco
e se faz de ostra:
sempre me enclausura.
Brinca com hipocampos,
faz cócegas em Netuno
e me quer sua filha.
Talvez uma pérola.
Sacrossanta
havereis
de me querer
todos os dias
- corpo e hóstia –
Aos teu pés
Imolando-me no altar
se santo não sois
por que havereis
de me querer
pura e pedra
e também sacrossanta
por que não esfinge
- pronta a te devorar?
Não sou fraca por obra de Deus
em mim, os seios pedem abrigo
as dobras do corpo, flagelação
por isso, valho-me de rezas,
terços e xaropes
e me desdobro em antífonas:
antes o gozo do que a morte
antes o cancro do que a salvação.
O olho do gato
tem outro gato
no espelho
tem outro pêlo
no fio
tem outra lida
no sê-lo
tem outra vida
no cio
tem outra luta
no relho
o olho do gato
não sabe da vida
um fio
não sabe da noite
um pêlo.
Se me esqueço
em novelo de dedos
não me fio em roca e fuso
de tessituras alheias.
Ainda que fique sem pão
colher de pau e jasmim
tapete de tez vermelha
ventilador e dentifrício,
Ainda que perca o elo,
não me fio
e me fecho em minotauro.
Meu pai
pensava filhos
como se quisesse açude
pomar curral e galinhas
fazia filhos
como se pensasse
em sítio:
de sua carne.
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