Aline Monteiro nasceu no Rio de Janeiro e já morou em João Pessoa. É o que se pode chamar de brasileira da gema. Ao todo morou em doze cidades de oito estados diferentes distribuídos em quatro regiões. Atualmente reside em Princesa Isabel-Pb, onde é professora do IFPB.
É graduada em Letras- Inglês e Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia. É uma artista do corpo e da palavra. Tem poemas publicados em antologias organizadas pela editora do Clube de Escritoras de Rondônia.
Aline se considera norte-nordestina, mas questiona a invenção das fronteiras. Seu pai era pernambucano, a mãe é paraibana. Para ela, as quatro regiões do país onde viveu convivem dissolvidas umas nas outras, dentro de si.
todo corpo que
circula pela cidade
sabe o preço da rua
***
gargalhada de Exu
é te avisar dos riscos
e te ver fazer
o contrário dos ensinamentos
Exu olha a mentira
na cara e debocha
***
a rua
não engana
eu que me engano
por mim mesma
e gracejo
na boca do perigo
***
meu peito
não cabem metades
não me queira
em partes
aqui até o
vazio é completo
***
I.
sempre peço ao universo
que me mande qualquer recado
por escrito
mas quando vem assim,
em sorriso,
não entendo, mas deixo anotado
***
II.
os fios da rua
encarceram a lua num retrato
e então ela sobe para a
sua liberdade celeste
eu nunca tinha visto uma
churrasqueira na calçada
e queria te mostrar a
vista da minha sacada
sem lentes ou telas
apesar do verde renovado
pela chuva
das minhas plantas novas
a esperança esmaece
tenho vontade de te escrever
um texto e enviar
sem editar
sem pensar no que ele
deveria ser
como a lua que não edita seu
trajeto por causa
das nuvens
queria mandar a
palavra crua
observando o satélite que percorre
seu caminho arredondado
sobre as órbitas
dos meus olhos
percebo também que
são cíclicas as
palavras amedrontadas que
se movem sob eles
enfim, não era nada
disso que eu pretendia
dizer, mas que
controle tenho eu
sobre os im
pulsos agridoces do
eu texto
***
III.
sei que pareço ca
ótica e desconectada
mas sou boa em pro
porcionar carinho sei
fazer cha
mego e me dedico com a
finco à
arte da
presença
*
IV.
a coragem de sentar
sob a mangueira no
verão não tenho
circulo a praça e
acho meu canto
(queria estar
abraçada
no banco da praça)
não espanta a
ausência da algazarra
das crianças
-anda tudo tão
perigoso
ouço motores
mas não aqueles
incansáveis
geradores de
energia infantis
brinquedos aguardam
mãozinhas e roupinhas
para espaná-los
queria que
ninguém morasse
no banco da praça
o palco
iluminado –
rodeado com
seus pilares
estéticos que
não têm muito
o que segurar –
poderia encenar dias
sem medo
e já que não
tá chovendo
a gente admiraria
a copa das árvores
e a lua que brilha
talvez esse dia
fosse uma centelha
*
V.
cre
scer
com(o)
a lua
encher de
luz
***
VI.
gestando a mim
mesma
fecundei
me úmida
embebida em
desejo
desde então alimento
meu sonho-ser
no parto
não me deixo.
molho cada
passo-Oxum
deslizo em
minhas carnes
acolho o
vermelho do
caminho como se nele nadasse
desmancho-me
em som
pulso nas ondas
que cismam
repetir ci
clicamente
morro para nascer
minguo para encher
vibro para ser
sim
sinto
soul
sonho
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