quinta-feira, 20 de abril de 2023

Nymeria Ronan

 Nymeria Ronan nasceu  em Campina Grande-PB é poeta, estudante de Letras Espanhol e escreve desde a infância. Mulher trans, lançou em 2020 seu primeiro livro, Alma Grávida (Editora Escaleras).


Hora de agora nos pensando na borboleta como parque aquático levitador

Tu levita como bem entende

Ver a figura do karma numa agulha prestes a ...

Enforca o namorado ate desmaiar

Toma leite devagarinho

Arruma pra próxima lua cheia uma dor para ir ate a lua

Convidar lilith pros embalos de sábado à noite

Hora do antes: prazer já existi

Me esqueça ou ou adore

Chegou o momento

Quando chega

Aperta

Sobe

Prende

Gargareja

É tua oh

É tua pra depois ser escrita como una

Toda dor é um origami do causador ne ou nao e eu sei sei la

Chega mais

É verão os chatos gostam dele

Outros muitos chatos não acariciam a pegadinha da mamá morte no outono

Se for pra namorar

Será o tempo inteiro nua

Marcas da cama

Marcas de estrias

Marcas do peso corporal

Marcas da transa

Marcas invocação

Marcas da divisa entre esta nas estrelas e entre ser rede no mar

Nua o tempo todinho

Marcas minhas numa depressão ainda não escrita

A poesia mente oh carai




*****




Presta bem atenção em

Tá lá bem na nossa frente

Nosso encontro imitando

Passou maquiagem

Decorou nossa competição pelo último pedaço de qualquer torta..

Foi lá no centro espírita receber o passe falaram que estava pesada

Igualzinho a ti

Atenta a memória infestada de imaginação

no momento da meditação uma flor de lótus apareceu

ela sangrava

ela desmontava uma borboleta acima da minha cabeça

é todo o perigo de ser

é toda aquela jaula de não ser e fingir ser uma boneca de carne ossos respirações na carne,língua,saliva,respiração,ossos,cérebro

arritmia cardíaca

doenças da velhice

energias densas

narcisismo intensificado

fotos na parede..todos estão mortos

obsessores longa da vista

presta atenção

lacrimei muito esses dias

você brinca; precisamos conversar

a conversa não acontece

você guarda essa conversa como um guardião na porta do labirinto

que só se mexe pra pedir a garotinha um pouco do seu sorvete

( por que essa garotinha nunca cresce ?)

meu anjo da guarda ..meu animal totem ontem miaram do telhado

perguntei e levei miados de volta

prestei atenção

assumi que se tivesse arco e flechas atiraria em mim mesma

andaria com elas presas a mim

tomo café..ele mais me seca do que sacia

prestamos bastante atenção

os caras não nos deixam em paz

assobios olhares de nojo

lacrimei muito esses dias

antes socorro na esperança

antes o agora podia ir pro enforcamento

nunca sonhei com ventos

Os sonhos de vocês tem ventania ?




*****




essa encarnação de solidão te bota aos pés de qualquer ser que cria nuvens de chuva envolta de si mesmo

oremos excitadas

aquela freira jovem te chamou atenção

no confessionário

atrás dos santos

no momento que se arrependem dos sexos

leite azedou toma assim mesmo

achou mosca na manteiga

passa no pão assim mesmo

come

quase vomita

o bicho que o estômago é quase sai para fora

alguém liga

é número de fraude

você estava esperando um espírito

entidade

até mesmo alguém fingindo ser qualquer coisa

decepcionada

tenta desligar-se vendo receitas de doces que nunca vai tentar fazer

mesmo que digam; nunca é uma palavra forte

você sabe o quão forte é para nunca exercer o nunca

essa encarnação de solidão tira as cartas de tarot

fala da sua dependência

que suas raízes nascem numa forma de abraço bem bem apertado

quase estrangulando o espaço vazio

alguém vai entrar nesse espaço

comer geleia

dá chutes

deixar pegadas

defecar

cuspir

montar altares pro passado

e por fim

sem ser fim

pois pode continuar

queimará tu

nasce o anticristo das chamas roçando a bunda te tendo estilhaços

essa encarnação de solidão afoga-se propositalmente numa piscina pública idem praia esperando o salva vidas vir em câmera lenta ao resgate

é nossas expectativas hollywoodianas nada nossas te acalma em



Fonte: 
Poemas Paraíba | MAPA BRAVA


Hora de agora nos 


Marília Valengo

Marília Valengo é de João Pessoa, capital da Paraíba, mas mora há 5 anos na cidade de New York, Estados Unidos. Costuma dizer que tem um pé no Cariri e outro no mar. É redatora, estrategista de conteúdo e ultimamente, nômade. Publicou poemas nas versões digital e impressa da Revista Subversa e lançou seu primeiro livro de poesia, Grito em praça vazia, pela Editora 7 Letras em Outubro de 2020.



bilhete de despedida

 

queria que você visse
a minha coleção de frases 

queria que você visse
o exato momento que o sol
lança um feixe de luz
sobre a porta da cozinha
de manhã muito cedo 


que você parasse
alguns minutos 

para ver o brinco de moça
florido no quintal
a força do amarelo

os pequenos animais 

que aparecem por causa dele

planejei te mostrar
o caminho que leva 

para a árvore mais antiga da redondeza

e sonhei com o momento 

em que iríamos sentar para assistir 

aos bichos voltando para o curral 

perto do sol se pôr


quis te levar na casa abandonada

quis dividir com você todos os barulhos 

por trás do maior silêncio da terra


queria que você entendesse 

que não precisa mergulhar mil léguas submarinas
basta perceber que flutuar é mais fácil 

do que se imagina.




*****




então?

 

não faz a menor diferença
já que estamos sob o mesmo

 

sol

 

não pode haver distinção

porque nossos suores são compostos  

 

damesmaquímica  

 

também não existe distância maior, 

 

a    m   o                                      r      

 

quando o que está

entre

os nossos corpos 

 

é o mesmo

 

independente do ponto de vista

 

é o mar quem está agitado, não eu.

 

como as mulheres que conheço

quero descanso

 

e saber

 

com quem deixaremos os nossos filhos?




*****




heróis também jogam golf

 

fico imaginando que todos se convidam
por bilhetes deixados embaixo
de copos que serão recolhidos

por garçons asseados em um salão

esterilizado que é para ninguém perceber

as nuances do clubismo e também de
outras facetas mais vulgares

do despeito

 

que faz com que em outros lares

inventem novas maneiras

de esconder tais bilhetes

nos buracos de muros rajados de balas

que serão recolhidos por mensageiros-passos-firmes

que é para ninguém perceber as nuances vulgares

do oportunismo

 

e enquanto nos desesperamos
com periódicos e cartas que não chegam
mãos se apertam

documentos são assinados

votos são recolhidos

e um sentimento de paz e democracia invade a todos

quando na verdade só há dois buracos onde podemos enfiar nossa esperança

e que tanto faz se dentro do gramado

ou dentro da parede

é a sofreguidão da palavra

relevância que nos assombrará no final.



Fonte: 
Poemas Paraíba | MAPA BRAVA


Luiza Gadelha

Luísa Gadelha nasceu em João Pessoa-Pb onde ainda vive. É graduada em Letras, mestra em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba e doutoranda em Estudos Literários e Feministas pela Universidade do Porto. Servidora da UFPB, também escreve sobre literatura e é editora do site de poesia Zona da palavra. Tem poemas publicados em revistas brasileiras e portuguesas. 




as madrugadas insones servem para guardar as roupas secas penduradas no varal lavar a louça acumulada do dia limpar a caixinha do gato - eventualmente acarinhá-lo um pouco ouvir o silêncio mudo que ronda a vizinhança alheia e adormecida e um grilinho aqui, outro acolá enquanto pensamos em todas as (des)esperanças e desesperos e esperas da bolha do mundo




*****




incômodo com as minhas pestanas a minha avó, natural de areia, foi tida por muitos por oriental é que ela tem olhos pequenos como as gotinhas d’água que desenhamos na infância ou aquelas bolinhas de gude que costumávamos atirar — nunca aprendi este jogo os meus olhos já nem são puxados à moda asiática apenas diminutos e, onde se deveriam contemplar os cílios, apenas uns poucos fios, salpicados, sem tamanho nem volume – o que impede e ridiculariza qualquer tentativa de maquiagem este detalhe, contudo, não é o que mais me incomoda afinal nunca fui grande entusiasta de fantasias (exceto os devaneios oníricos) o embaraçoso é: será o meu olhar capaz de transmitir todo o sentimento do mundo?




*****



ansiedade é a gente surrupiar toda a sensatez sugar o ceticismo se sabatinar, auto-sabotar serpentear por futuros absurdos e quem sabe possíveis, mas improváveis. suportar sozinha as situações sonhadas de desalento é desesperar no abismo insegurar nas possibilidades se saciar na insanidade.




*****



O período mais duro Mais trôpego, mais triste, mais traste Foi aquele inverno nos jardins De Sophia de Mello Breyner Andresen Em que esqueci os instantes que vivi – e os que não vivi – Junto ao mar. O Porto era então todo cinza Todo cinzas Gélido, úmido, sufocante Tinha mesmo sido Um lar? E mesmo nos jardins De Sophia de Mello Breyner Andresen A trégua era só para um suspiro Um soluço, um sussurro Uma contemplação das roseiras já murchas Que um dia pertenceram a Sophia – agora já éramos íntimas, separadas apenas pelo tempo – Sophia que um dia disse: “O Porto é o lugar onde para mim começam todas as maravilhas e todas as angústias.”




*****



animula vagula blandula (nos versos do imperador adriano): essa alminha errante completa hoje trinta e três voltas ao redor do sol (me perdoem os geocêntricos) trinta e três: a idade de cristo (me perdoem os céticos)
quatro, quase cinco renovações totais
de todas as células do meu corpo
(me perdoem os criacionistas)
33 primaveras de mentira,
(aliás, 30, porque 3 passei fora do país)
(e porque em joão pessoa não há estações do ano)
e, no entanto,
me pergunto o que resta daquela menina
que brincava de barbies
neste corpo quase irreconhecível
naquela menina que
teve uma infância
ordinária
trivial
e vulgar
como quase todas as outras meninas
em todos os lugares
e todas as épocas
me pergunto o que resta
de mim
neste estrangeiro
corpo
que deixa de responder,
lentamente,
aos meus comandos
que esbranquiça as poucas madeixas
que não caíram
que escurece o entorno dos olhos
contra minhas ordens de repouso e trégua
que transforma alguns órgãos
em pequenos invólucros
de sentimentos
uma carcaça carregando
frágeis saquinhos de
amores, esperança, mágoas
um pouquinho de inveja,
algumas frustrações e
borboletas, balões, docinhos açucarados
o saquinho do entusiasmo
infla, seca e retoma
num eterno ciclo
em sintonia com a respiração,
elevando os seus juízos e inventos
o coração, esse órgão preferido dos apaixonados,
não sei que assombros carrega
sei apenas que, dentro deste saquinho em particular
carrego vários outros saquinhos
daquelas e daqueles que passaram dentro mim
citando cummings:
i carry your heart with me
(i carry it with my heart)




Fonte: 
Poemas Paraíba | MAPA BRAVA

Amanda K

Amanda K. nasceu em  Cajazeiras onde ainda vive. É advogada e foi vencedora do Concurso Nacional de Contos e Poesia que marcou os 60 anos do Correio das Artes, na categoria contos, com a obra Cogumelos nascem no telhadoVinis descascando pelas bordas, lançado em 2018, foi seu livro de estreia na poesia. Atualmente é colunista do jornal A União.




estico-me

nesse cabo de guerra

entre o êxtase

e a inércia




*****


 

atravessamos a ponte

pra trás os relógios

as pressas pelo nada

talvez nem Oz arriscasse

um truque

onde tudo simplesmente é




*****


 

nos dedos o incontrolável desejo

de percorrer teus vales

testa, sulcos

adentrar o lado oposto

invadir o campo magnético

traçar linhas, semicírculos

sem pressa

como o viajante de Kavafis

até que Ítaca se apresente

e fim.




*****


 

medo

de um dia

de tanto apagar

a vida

ela se rasgue




*****



dos passarinhos

que rondam a cabeça

botar na gaiola

do esquecimento.



Fonte: 
Poemas Paraíba | MAPA BRAVA

Eliza Araújo

 Eliza Araújo é poeta radicada na Paraíba  Professora, poeta, amante de literatura e amadora no canto. Seu primeiro livro de poemas foi Segredo de Estado de Espírito (Editora LiteraCidade, 2014) e o segundo, Lusco-fusco (Editora Escaleras, 2018). Faz doutorado em literatura afro-brasileira e afro-americana na Universidade Federal da Paraíba.


is aura

o endereço do meu peito é camisa
pano puído gasto no tempo
roupa do corpo pronta pra vestir
acerto de moda na nódoa

auréolas os mundos chovem
mamilos as curas desenham
pintas marcam pontos de encontro
contato
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀e deságue

quando te encontro as conchas
palavras somem e uma festa me sobe o cerne

o endereço do meu peito é tua cabeça:
cidade às vezes erma onde busco morar insone
in⠀⠀⠀⠀⠀trusa
in ⠀⠀⠀⠀ transe




*****

bojo

um dia disse
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀- a vida é, na verdade, o que fazemos de nossas saudades

quis retirar o dito
resgatar imediatamente o fio do sentido
como pondo pausa a um beijo sem encaixe
em que línguas e batons não se entendem
quando dedos tilintam sem ritmo
dentes
se chocam em acidente

meu medo era
verdade
em pleno pelo sobre a pele
morno em sol de dia útil
aceso em pincelados buracos da sombra entregalhos

correr dela não podia, mas desdizer à maneira possível de
fingir estrago e tropeço
usando de um melhor dito que queria não-dito para não enfrentar
verdade ~

eu enfrento saudades em guerra sangrenta
depois durmo embolada nelas
a cada reza as ponho no prato ao centro do altar
cada dia mais fundo nas gavetas de toda a trouxa do que lembro

eu canto à liberdade, ilusão,
presa em saudades
sau
dosos teus dedos
no côncavo esquerdo de minhas costas



*****


 

[lembra: o mar]

 

não nos achamos nos idos dos anos 90
vimos os anos longe, mas debaixo do mesmo sol
as músicas marcaram momentos

            como cravos escavam madeiras
            mudar as formas foi te ter nos círculos
            e na memória afetivo-olfativa 
            da infância que agora chamo afã

os locutores de rádio
matavam nossas cuidadosas listas de música nas K7
com palavras descartáveis interrompendo o fade out das músicas –
eu vejo teu olhos nas fotos 
e  te amo porque me encontro
na tua desmedida maneira de amar os seus 

            voltar às origens
            e chorar com canções

 você me viu navegar com amores que foram minha pele
não os compreendo agora, mas foram-se como os anos
e restou um corpo mudado
menos cabelos na cabeça
            e um torso que segura na boca do estômago as emoções

te encontrar te reencontrar te encontrar
é tipo ir de barco a Picãozinho
meter a cabeça entre os peixes e saber como respirar
            é estranho e divino
            que nossas saudades deságuem no mesmo lugar. 




*****

 

 

naftalina doce

 

na terceira infância minha brincança era silêncio, não dança
os livros livravam dos gritos dissonantes da casa
goiabas vermelhas verdes duras eram razão de subir o pé
entre infância e afã caminho árido
pegar pegar    regra do pega pega
pular pular      regra do pula corda
o primeiro amor varanda
sempre teve dedos     dedos grossos pequenas unhas roídas
cutículas finas sobrancelhas unas
pegar pegar era um lúdico encostar nas suas costas
dormir entre lençóis compartilhados segredada maneira
de sentir o cheiro dos seus cabelos
nossas bocas se conheceram até que não – 

os estilhaços do meu coração recolho ainda
e olho o arranjo:
espelho turvo que é viver e reinventar os pedaços.




*****

berço das avós 

 

te dei aquela canção de Nanã pra quando precisasse recorrer a ela
as mãos cálidas que desenham o sol na terra
podem desenhar linhas no asfalto arabescos no ar 

viajar é criar rotas sobre rodas ou pés
e
nos pontos que embalam
segredos podem ser abertos ponta por ponta
como quem desencobre pacote quem
desentuca lençol ou rodopia e dança

 Nanã velha e criança
dança ao som de naná
e as memórias que mateus revira
ecoam com as pessoas em mim que comungam

quando vieram
os navios mais que cortaram o mar errantes:
costuraram na espuma histórias que de tempos
em tempos nos levantaram
altos como os povos antes –

nas memórias desde a lama
nanã é mistério em gente
que mais que sabe, sente.




Fonte: Poemas Paraíba | MAPA BRAVA


quarta-feira, 19 de abril de 2023

Felix Di Láscio

Arnaldo da Silva Félix (Pseudônimo Felix Di Láscio nasceu em João Pessoa-Pb onde ainda vive. Integrou o grupo Oficina Literária nos anos 80, quando publicou seu único livro, "Discurso panfletário". Tem poemas publicados em diversas antologias e em suplementos como Correio das Artes. Edita o bog napoltrona.net onde publica a sua produção.



Atos falhos


- Maos e os atos!
Ignorem os laudos
E os alfarrábios!




*****




Mar abraço


Nadei
Até cair nas encostas
Do seu rio.




*****




O VAGA_LUME SEM NOME


O Vaga_lume
Sem nome
Clareia toda cidade .

O Vaga mundo
Tem nome,
E tem muita vaidade.
__Que tal chamá _livro claridade?




*****




LESA PÁTRIA



Zumm...

Um mosquito sozinho

Não podia carregar 

Um barril de petróleo.

 

Daí, outras espécies

Uniram-se em torno da causa

E a proliferação dos insetos

Deu no que deu !




*****




A CENA DO CRIME



Tranquei a vida
Alguém mais esperto,
trocou de sapato:
Tic... tic... tic...
O disfarce só não foi perfeito,
Porque não encontraram 
Vestígios...










Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...