Margarida Lucena da Hora nasceu em Guarabira. |
Margarida
Lucena da Hora é paraibana de Guarabira e nasceu em 16 de abril de 1924. Morreu
em 2010, em Recife-PE, onde residia desde 1944. Na época, mudou-se para Pernambuco com o objetivo de prestar vestibular para a
Faculdade de Direito. Foi sócia fundadora da ABDE, hoje UBE-PE – União Brasileira
dos Escritores. Seu trabalho como escritora aparece em diversos jornais, domo Jornal
do Commercio (PE), Diário da Noite (PE), Jornal da OAB-PE e Jornal Pequeno
(PE). Também em revista como Continente, Horizonte, revista Branca (RJ) e foi
traduzida para o Espanhol na revista Francachela, de Buenos Aires. Casou em
1948 com o escultor Abelardo da Hora, com quem teve sete filhos.
Para
o jornalista e escritor Willian Costa, “A poesia
de Margarida é de qualidade, de um lirismo que não se deixa contaminar pela
pieguice e é de belas e fortes imagens, onde a autora, por meio do eu poético,
revela suas emoções, sua leitura acerca da vida, da natureza, do amor e da
arte. O leitor ficará, com certeza, satisfeito em perceber que a poesia de
Margarida não está afastada da qualidade estética da obra do marido. O que as
diferencia é apenas a linguagem: um faz poesia com bronze e a outra, com
palavras”. O livro Poemas Reunidos foi publicado em 2008, em Recife e
republicado pela Editora A União, em 2022.
MEU
OFÍCIO
Não sei se a
mágoa me procura
Ou, inquieta, eu a busco em punição.
Prisioneira do imperfeito, sinto erros
No perfeito, teço abismos do meu chão.
Circunstância no malogro eterno,
Passo a passo caminho no imprevisto.
Recolho e retorno do passado
No ontem, o fenecer do amanhã.
Floresta sem força, sem espinhos,
Na sombra, amadureço sem memória
Buscando no espaço das palavras
A voz e a canção do ressurgir.
REFLEXO
Esta face
que se evade escura,
Este corpo que se verga na noite,
E, áspero, queda ferido
Entre palavras e lâminas,
Do chão ressurge,
Para o espaço das estrelas.
E na mais alta montanha
se
desdobra,
ilimitado,
Na madrugada fugaz.
PRELÚDIO
Passeia e passa
Sem olhar para trás.
Uma estátua de pedra
Tornará
Teu sangue, tua carne,
Mineral.
Ressurgirás
Com os deuses
No deserto.
CANÇÃO
PARA AS DEUSAS DE PEDRA DE ABELARDO
As estátuas
choram
Sobre elas me debruço,
Abro as portas na escuridão
E troco angústias e sinais.
No cenário,
Os olhos da lua
Espelham,
Suas pálpebras de pedra,
Seus corpos de deserto.
Eterno,
O Deus dos labirintos,
Vigília e punhal,
Costura em sudário,
Sufoca o lamento,
Apelo de vida,
Que num brado,
Estátuas desatam.
POEMA AO
VENDEDOR DE PIRULITO
(Escultura de
Abelardo da Hora)
Uma mancha
de sombra no chão secular,
Um traço de poeira no céu todo azul,
Acordes tirados de lábios famintos,
Distante harmonia ferindo o silêncio.
O sol na calçada enxuga teu pranto
Que cala e se perde no chão e na pedra.
Teu passo é caminho de tempo e de luta,
Teu canto pregão enfeita a miséria.
Os homens não sentem a muda censura
Que cobre teu rosto de adulta tristeza
E fere teus membros, menino sem lar.
Os homens não veem a trágica beleza
Que mora em teu corpo pesado de andrajos,
Vestido de sons que chora teu peito.
Fonte: Jornal A União.
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