quinta-feira, 2 de março de 2023

Débora Gil Pantaleão

 Débora Gil Pantaleão é escritora, professora e psicanalista paraibana com vários livros publicados. Entre eles, livros de poesia, duas novelas, um livro de contos e o romance Uma das coisas, além de diversas participações em antologias e curadorias literárias.

 


 

 

Gosto


Do mar do sal do sumo
Do sabor do como
Veio aos poucos
Se foi se some
Visto que não é santo
Nem vem pra ficar



Da masturbação

Duas mãos que acariciam
O mesmo corpo
Descem
Apertam
Recordam
Das mãos que acariciam

O corpo ausente
Nunca soube
Que esteve ali.




**********

 

é preciso fôlego

para não acender

o fósforo

***********

ofereceram-me dinheiro

queriam meia dúzia

de feridas

hesitei


**********

 

tem chovido na cidade em que nasci é a mesma que fugi por esses dias de 2015 e não é algumas muriçocas vem até mim incomodando a minha solidão vagalumes me beliscam e já não estou tão só

**********

imagina que horror se a vida fizesse algum sentido sentada aqui penso em todas as coisas que se juntam entre os móveis e as paredes de nossas casas separadas

**********

para a querida Cris Estevão

 

a vida é essa coisa incrível um clichê vejam esses carros passando na pista molhada enquanto tomo uma cerveja do outro lado no bar passa um grande amor com seu grande amor um clichê vejam esses carros passando na pista molhada não não não esqueçam os carros esqueçam os carros pensem na ossatura dos carros dos carros não não não de quem tá dentro dele prestes a viver mais um acidente de guardanapo

 

Daniel Sampaio

 Daniel Sampaio é poeta paraibano natural de João Pessoa e advogado formado pela UFPB. Publicou a plaquete Terror sagrado sob o sol de meio-dia e o livro Poetas em Tempo de pobreza & outros poemas. Sua poesia pode ser encontrada em suplementos e revistas de literatura.




 

 

 

TERROR SAGRADO SOB O SOL DO MEIO-DIA

 

1.

 

draga-me

o dragão

às grades

dos dias

 

agrilhoa-me

os braços

de rugas

e algodão

 

nenhum

grito

nenhum

sismo

 

a so

ga gór

dia à glo

te.

 

2.

 

asfixia

 

p(r)esa

ao peito

 

a

 

(l)

í(ngu)

gne(a)

 

a

 

do dra

gão(!)

 

como

(se)

 

insígnea

 

o

sol.

 

3.

 

o corpo à

forca do asfalto

 

catafalc’

o corp’

abort’o

(o) sol

 

bolor

bolor

 

abrolho so

bre a pele s

ob agulhas

de abelha

 

prenhe

 

o dragão

engole-me

a cidade:

 

.

 

4.

 

é como se

engrenagem

a carne gangrena

de cães aço

a apodrecer

rodovias en

cru

zilhadas escamas

o dragão

a sem sangue

se alimentasse de mim.

 

5.

 

abjeto

 

como

vísceras do dragão

 

&

 

intestino de

asfalto

:

corpautofagia

quando o

 

sol

 

se acid

entre

 

abscessos

 

6.

 

o dragão sombrou

m e as (m) as

 

para

o inferno

 

e caí como o corpo morto cai*.

 

7.

 

infern

o

s  berb

o

 

s  u

o

  ss

o

 

& medul

o

pOrOs

o

 

o

 

med

 

 

DA SÉRIE PERFIS

 

1.

 

O cigarro entre os dedos faz cair

cinzas sobre o prato

alumínio e flexível do almoço do dia.

Mas a fome não dejeta

o desejo do vício.

Ao contrário, ela despeja

uma tensão nos intestinos

do faminto que agora come

com as mãos sujas

de um trago pra lugar nenhum.

 

2.

 

A intenção do tiro

lhe passar as têmporas

adoça o tempo que lhe resta.

 

Sabe ser a vida

o segundo de silêncio

antes da estopa da roupa

ensaguentar-se.

 

Como um Werther, o vinho

entornado sobre a mesa,

risca o dedo para sonar a vida

 

e o doce rumor do nada.

 

 

3.

Espera ao pé do lixo

a vez de ser chamado.

Segura a ficha entre os dedos

polegar e indicador

de traços magros, pele

ressecada e rugosa como

figo seco e estragado.

 

À frente há o espelho

das janelas contra o

rosto de horto e pétalas

em pedaços de calcário.

Mas está em desconforto,

e não percebe o reflexo

do ramalhete de corvos.

 

Sua vez, no entanto,

não será agora. Antes

dele, aquela Senhora.

 

 

 

DA SÉRIE NUTRIÇÃO DA PELE

 

1. Amors es perduda

 

quero

   do Amor

diamante qual

dinami

 

te nitri

dos as

 

ticos

ânsia onça

de roubá-la robusta

 

antes

de tuas car

nes

o belo molde

 par

 

tir,

and being

bent and wrin

kled,

que ao

 

tem

po res

te o des

ate.

 

2. Mudragada

 

pó sobre maráguas                   sob arcada

biombo de estrelas                   serpentes e cambraias

 

o chão e o campo

tudo escuro depois da praia

 

até o satelight              pálpebras sobre o olho

onde só se vê               a pouca lúgrima

 

o pó cobre

tua presença derramando

como óleo

quente

 

                                   já à hora de ir embora

 

3.

 

A porta entreaberta

entrevejo

sob um quarto de luz

sobre a cama

a silhueta

que teu vestido

deixou à vista.

 

O braço branco

por sobre a cabeça

se insinua o sono

de teus cabelos

à sombra do criado mudo.

 

Salivo cada sílaba

no bobo beijo

que o ar me leva.

 

  

 

 




O AMOR EM DOBRAS

no espaço a que nós dois nos damos
as mão que o espanto desperta um corredor
em dobras a dar-se a si seus contornos de dedos o elidir
de sua forma a sua mais prevista como se concha
a fechar-se à pérola que lhe cabe em linhas-lâminas a
eliminar-se as
frestas de suas próprias dobras

 

EVOÉ!

Ela deitada     dilatando
marfim sobre a crina negra
de um cavalo              sua escancarada anca
âncora de suor
o lençol
após galopar                um campo
o algodão


CABÍRIA

a noite sarra a bara de tua saia

a vida são sempre  mambos & mambos pra putas & putas
(menos tu)

e se fosse para sofrer, deixa a queixa
andar pierrô


HOMELESS

meu ninho, o teci-
do d´avenida Epitácio fi
o de pára-choques.
paralele-
pí-
pedos, pedaços de
papel e placas.

 

 

Envie poemas, minibio e foto para o e-mail lausiqueira@yahoo.com

Francc Neto

  Minha jornada como poeta começou na adolescência,  publicando poemas em revistas e jornais.  Ao longo dos anos, minha poesia foi reconheci...